Depois de 34 anos sem relações diplomáticas, Estados Unidos e Irã assinaram, em novembro passado, um pacto histórico. Mais do que o comprometimento do Irã em não enriquecer urânio para a construção da bomba atômica, o acordo renovou as esperanças de paz numa das regiões mais conflagradas do planeta. Resta saber agora se o compromisso provisório, com duração de seis meses, vai resultar num acordo nuclear global definitivo. “Os iranianos estão felizes com o acordo porque esperam que esse seja o início do fim do isolamento ao qual foram confinados nos últimos anos”, disse à ISTOÉ Jan Oberg, diretor da Transnational Foundation for Peace and Future Research, um centro de pesquisas independente de Lund, Suécia. Segundo ele, as sanções econômicas impostas pelo Ocidente foram muito prejudiciais à população. As restrições de ONU, União Europeia e Estados Unidos começaram em 2006, suspendendo vistos, congelando bens e proibindo a venda de armas ao país. As sanções da Casa Branca foram particularmente pesadas ao congelar ativos iranianos em bancos americanos, o que desvalorizou a moeda local (rial) e afetou o abastecimento de gasolina e o fornecimento de bens e serviços à indústria automotiva do país. Os efeitos colaterais foram sentidos na alta da inflação e do desemprego. “É importante lembrar que o Irã não invadiu nenhum país nem expandiu sua força militar”, afirmou Jan Oberg. “Não há, portanto, nenhuma razão internacional para que 75 milhões de pessoas sejam punidas dessa forma.” O alívio temporário deve render US$ 7 bilhões ao país. É pouco se considerados os US$ 80 bilhões que o Irã deixou de ganhar com a venda de petróleo desde 2012.

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ACORDO TEMPORÁRIO
Mulher passa por usina nuclear em Bushehr, no Irã. O país se comprometeu
com cinco potências ocidentais a não enriquecer urânio para a construção de bombas

Outro acordo colocado como prioridade pela política internacional do governo Obama, o fim das hostilidades históricas entre Israel e Palestina, tem data marcada para ser assinado – é essa, pelo menos, a expectativa dos americanos. Mergulhado desde setembro de 2013 na tarefa de fazer os dois lados dialogarem, o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, anunciou que um novo pacto pela paz será oficializado em abril. As conversas, contudo, estagnaram em novembro, quando Israel anunciou a construção de novos assentamentos na Cisjordânia e delegados palestinos renunciaram às negociações por as considerarem improdutivas. Nesse contexto, a União Europeia ameaçou cortar recursos para a Autoridade Palestina. Entre os objetivos do acordo estão a definição de fronteiras de um Estado palestino, a solução para o drama dos refugiados e o fim da violência entre os povos.  Detalhe importante: os antecessores de Obama, Bill Clinton e George W. Bush, falharam nessa missão.

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DISPUTA DE PODER
O general Abdel al-Sisi, chefe das Forças Armadas
do Egito (à frente), ajudou a tirar Mursi da Presidência

Além do aparente esforço das autoridades pela construção da paz, especialistas acreditam que, no Oriente Médio, o poder de solucionar muitos dos conflitos está nas mãos de seus cidadãos. “Uma das expectativas para 2014 é a crescente capacidade de as pessoas agirem coletivamente e de maneira eficaz para exigir mudanças”, disse à ISTOÉ Andrea Strimling Yodsampa, cofundadora da associação Alliance for Peacebuilding, de Washington. “O poder militar pode ser usado para impor estabilidade a uma sociedade, mas isso é temporário, como vimos na Primavera Árabe.” No Egito, onde o movimento pela democracia desencadeou violentos protestos nos últimos três anos, a eleição do primeiro presidente pelo voto direto não significou um período de equilíbrio nas forças políticas. Representante da Irmandade Muçulmana, Mohammed Mursi foi acusado de autoritarismo depois de assinar um decreto concedendo a si amplos poderes e impondo uma agenda islâmica. Acabou deposto por um golpe militar em julho passado. Em janeiro, Mursi deve enfrentar um julgamento pela morte de ao menos dez pessoas que protestavam na frente do palácio presidencial, em dezembro de 2012.

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NEGOCIAÇÃO
Benjamin Netanyahu, premiê israelense (à frente), em
encontro com John Kerry, secretário de Estado americano

 

Janeiro também pode ser uma data decisiva para a guerra civil da Síria. No dia 22, a Conferência de Genebra, na Suíça, deve mediar as conversas entre o governo de Bashar al-Assad e a oposição. Cada vez mais poderoso e com o firme apoio da Rússia, o presidente Assad evitou uma intervenção militar americana em seu território quando navios de guerra já se dirigiam à Síria e se comprometeu a abrir mão de seu programa de armas químicas. A oposição, em contrapartida, está cada vez mais fragmentada e sofre influência de jihadistas ligados à rede terrorista Al-Qaeda. Com mais de 120 mil mortos, muitos deles vítimas de ataques químicos, e 2,3 milhões de refugiados, a guerra síria expõe a urgência dos acordos pela paz. Em 2014, o desafio será ampliá-los – e fazê-los resistir por muito tempo.

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Fotos: Montagem sobre foto de Ria Nocosti/ AFP; Michael Kappeler/DPA/ZUMAPRESS.com; Emil Salman – Jinipix/Xinhua/ZUMAPRESS.com