” O presidente do Sindicato dos Ambulantes Independentes, Afonso José da Silva, vive fugindo da morte há um ano. Ele testemunhou contra a máfia dos fiscais, apontando esquemas de corrupção na administração pública de São Paulo que envolvia fiscais e vereadores. Suas revelações trouxeram à tona a velha discussão sobre a criação de projetos voltados para proteger testemunhas. Logo em seguida, o governo criou o Programa Federal de Proteção a Testemunhas, e São Paulo implantou o seu, o Provita. Com o assassinato do ambulante Gilberto Monteiro da Silva, dia 16, que também depôs sobre o esquema, a discussão acerca da eficiência desses programas voltou a ser questionada.
Antes do Provita já existia em São Paulo, desde 1995, a Casa da Testemunha, com capacidade para abrigar 20 pessoas. O espaço apertado mais parece uma cadeia. A rotina é dura. A maioria dos que recorrem a ela é delatora de justiceiros, traficantes e homicidas e, a partir de 1999, testemunha da máfia dos fiscais. Passam meses trancafiados até serem acolhidos por parente ou amigo em outra cidade ou Estado. “As pessoas são encaminhadas para lá sem ter noção do que é aquilo e sem receber informações mínimas sobre o que vai acontecer na vida delas”, conta um policial. “Oferecemos curta proteção. Não é hospedaria nem hotel cinco estrelas. O que podemos fazer é isso. Não tenho como dar escoltas 24 horas por dia”, admite a delegada Elisabete Sato, responsável pela Delegacia de Proteção a Testemunhas.

As escoltas e o colete à prova de balas só existem para momentos especiais. “Para me proteger, fiz crer na imprensa que a polícia estava comigo 24 horas. Só que quando os depoimentos terminavam eles iam embora e levavam o colete junto”, conta Afonso. Por conta própria, ele anda com três seguranças particulares e com colete à prova de balas. O equívoco do ambulante é também o de muitos outros. “Acham que não vão sair da rotina, mas não é o que acontece”, esclarece Fabiano Marques de Paula, membro do Provita, que abriga 210 pessoas. O governo dá a eles uma ajuda de custo de R$ 600, recebem nova identidade e recolocação no mercado de trabalho.

O preço é alto para quem ousa denunciar crimes ou esquemas de corrupção. Que o diga a ambulante Ana Maria Gaski, que também denunciou o ex-deputado Hanna Garib. Quatro dias antes de Gilberto ser assassinado, ela recebeu nove telefonemas. Vozes gargalhavam e sugeriam para que ela “se cobrisse” e “se cuidasse”. Na quarta-feira 22, a polícia prendeu dois homens que teriam ganho R$ 500 cada um para matar Gilberto e desvinculou precocemente a morte do ambulante da máfia dos fiscais e dos políticos com ela envolvidos.