No final da semana passada, o artista plástico polonês Frans Krajcberg, há 51 anos radicado no Brasil, voltou cansado e feliz para sua casa construída num tronco de árvore, em Nova Viçosa, sul da Bahia. Feliz porque esteve presente no lançamento de dois livros que fazem um balanço da sua obra, Revolta e Natura (GB Arte – Petrobras, 170 e 90 págs., respectivamente, reunidos em um estojo que custa R$ 150). Um trabalho, diga-se, reconhecido tanto pela criatividade quanto pelo grito de revolta que clama contra a devastação da natureza, o estrago causado pelas queimadas ininterruptas de nossas florestas. O cansaço ficou por conta da maratona de autógrafos, como ele brinca. Frans Krajcberg, 79 anos em 12 de abril, chegou ao Rio de Janeiro, procedente de Paris, no segundo semestre de 1948, com uma passagem paga pelo pintor bielo-russo Marc Chagall. Logo embrenhou-se no interior do Paraná. Foi uma paixão determinante. Afora o período de 1958 a 1964, em que morou na capital francesa, onde ainda mantém ateliê, Krajcberg tem vivido no Brasil sempre cercado da natureza que lhe fornece material para suas exuberantes esculturas que agora surgem documentadas num projeto editorial de Marcia Barrozo do Amaral, com bela criação gráfica de Ruth Freihof.

O primeiro volume, Revolta, com mais de 100 imagens, traz biografia do artista e textos sobre seu trabalho, escritos ou organizados pelo crítico Frederico Moraes. Natura é a reunião de 70 fotos tiradas pelo próprio autor em suas inúmeras viagens pelo Brasil, com frases dele e de personalidades do meio intelectual e artístico. Entre eles está o cineasta Walter Salles, amigo de muitos anos, falando que a rota solitária cumprida por Krajcberg adquiriu sincronicidade com os movimentos ecológicos no mundo. “É como se houvesse estado muito à frente de seu tempo”, escreve Waltinho. De fato, com o decorrer dos anos, as pinturas e as esculturas de Frans Krajcberg, que mesclam troncos, raízes, folhas, sementes, terra, areia e lama ordenados com maestria, ultrapassaram a fronteira do excêntrico para adquirir status de protesto. Exatamente como queria o artista, um dos fundadores da Cruz Verde, órgão mundial de defesa do meio ambiente.

Krajcberg – que não dá nome a nenhuma obra – salienta que se hoje há mais consciência em relação à ecologia é justamente porque existem mais catástrofes. “O avanço tecnológico contribui para isso e o século XXI será um século urbano, durante o qual a população saltará de seis para 14 bilhões.” Não é à toa, então, que prefere ficar isolado no que ele chama de ilha, sua casa em Nova Viçosa, cercada das árvores restantes da devastada região da Mata Atlântica, que conheceu numa época exuberante e cuja destruição assistiu e documentou para o mundo. Como um alerta vermelho em favor do verde.