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COMUNIDADE
A decoração de Natal atrai mais visitantes à Paulista e, com isso, mais artistas também

Em meio aos sons, ritmos e cores que permeiam o cinza tipicamente paulistano, os acordes de “Garota de Ipanema” começam a ficar cada vez mais claros. A versão animada da música vem do tambor de José Evo da Silva, 76 anos. De boina branca e camisa social, ele se apresenta na avenida Paulista, em frente ao prédio do Conjunto Nacional, monumento do modernismo de 1954 que ocupa um quarteirão inteiro. “Muita gente trabalha por aqui, a cada dia surgem novos prédios e o metrô trouxe ainda mais movimento”, diz o músico. José Evo sente-se à vontade no endereço-símbolo da maior cidade do Brasil, onde todo mundo pode ter seu próprio espaço e conviver com diferentes públicos. “Quem gosta bate palma, quem não gosta passa reto. Mas nós continuamos aqui”, diz. Como ele, outros artistas passaram a emprestar seus tons à avenida desde junho passado, quando entrou em vigor a lei que regulamenta as atividades culturais na rua em São Paulo. Agora, com a decoração natalina que atrai ainda mais visitantes, os artistas tomaram conta das calçadas. Ganha a população, que passou a ter a oportunidade de usufruir de uma série de espetáculos a céu aberto e de ocupar o espaço urbano.

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Concebidas para pedestres, as calçadas largas da Paulista quase não conseguem mais acomodar as multidões que se formam. São mais de 40 lojas, 73 prédios comerciais e 31 bancas de jornal que servem quem vai à avenida a trabalho ou lazer. Além disso, as grandes galerias estimulam o convívio. “A universalidade da avenida dá a ela uma dimensão internacional”, diz a arquiteta Carla Caffe, autora do livro “Avenida Paulista”. Prova do crescente dinamismo é o surgimento das agências que promovem o “free walking tour”, passeios gratuitos em que as pessoas percorrem os principais pontos da avenida, como o prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e o do Museu de Arte de São Paulo (Masp), além dos antigos casarões.

Mais do que um centro de negócios, a Paulista é hoje um espaço de troca de experiências entre brasileiros e turistas. Quem visita a avenida tem a chance única de assistir aos espetáculos de dança e arte, protestar, desfrutar de espaços de convivência e, sobretudo, experimentar o ritmo de um dos centros mais cosmopolitas do País. “Todo turista quer conhecer a principal avenida da cidade, que reúne o maior número de hotéis em seu entorno, e aproveitar a oferta cultural e gastronômica”, diz Luciane Leite, diretora de Turismo e Entretenimento da SPTuris. A esquina da avenida com a rua Frei Caneca é um dos pontos mais movimentados da região. Nele, o ilusionista Weliton Kem, 36 anos, incita a curiosidade do público que deseja descobrir como o mágico conseguirá desatar os nós que envolvem seu corpo. Veterano na Paulista, Kem diz que fazer mágica lá é um cartão de visitas extraordinário. “As pessoas assistem ao espetáculo e depois me contratam para apresentações em escolas e shoppings”, diz.

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Além da lei que permitiu a liberdade de expressão dos artistas, a inauguração da nova estação de metrô e da ciclofaixa de lazer também foram responsáveis por atrair mais público. “Mais pessoas visitam a avenida, o que a faz viver um novo período de expansão”, afirma Marcel Solimeo, economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo. A Praça do Ciclista, por exemplo, tornou-se o ponto de encontro de quem gosta de pedalar todas as quintas-feiras à noite. O técnico de qualidade Célio Videira, de 44 anos, percorre a região de bicicleta há três anos. “Hoje temos mais segurança e os motoristas estão mais conscientes”, diz.Vilma Peramezza, síndica do Conjunto Nacional há 30 anos, lembra que a Paulista nasceu para ser 5ª Avenida brasileira. “Era um lugar onde só viviam pessoas ricas, e hoje se transformou em um ponto de encontro de pessoas de todo o mundo”, diz. Transformou-se em uma avenida mais democrática.

fotos: João Castellano/ag. istoé