Segue um baralho. Troque os números e os naipes por letras. Junte a turma e estabeleça as regras. O resultado é o jogo Pingo no i, invenção do músico e comunicador visual Mauro César de Oliveira, que vem conquistando professores e alunos de todo o País. Inspirado no tradicional buraco, Pingo no i estimula a agilidade e o raciocínio dos jogadores. Sua proposta é simples: no lugar das sequências numéricas, o objetivo da partida é formar palavras. O tamanho delas, sua classe gramatical, o que vale e o que não vale, tudo isso é acordado entre os participantes. Pode ser usado para diversão, como material didático ou instrumento de tratamento de crianças. Um exemplo é a fonoaudióloga goiana Marilan Ferreira Roldão, que utiliza as cartas no tratamento de um garoto de dez anos. Matriculado na sexta série, o menino tem dificuldades com algumas letras e troca consoantes na hora de escrever. “O jogo é ótimo para crianças com déficit de atenção ou com distúrbio na leitura e na escrita”, propõe a fonoaudióloga.

A Escola Pacaembu, em São Paulo, adotou o jogo há um ano, usado com frequência por turmas de primeira a quarta séries. As crianças, como Sophia Teixeira do Amaral, de oito anos, aprendem português brincando. “Baralho normal é chato. Pingo no i é muito mais legal”, diverte-se a menina da terceira série. A professora Lúcia de Sá Assis comanda os alunos. “Eles olham as cartas e, automaticamente, vão formando as palavras, o que exercita a percepção”, justifica. A coordenadora Odila Azevedo de Oliveira, responsável por levar o jogo à escola, conta que apresentou o baralho para alguns parentes em Portugal e todos ficaram encantados, querendo saber onde poderiam encontrar.

Recreio – As cartas acabam servindo para o estudo de qualquer disciplina. Pode-se estabelecer que somente nomes de mamíferos são válidos ou apenas verbos flexionados na segunda pessoa do singular. O Colégio Objetivo de Mairiporã, também adotou o baralho e confirma o sucesso. “Os alunos não se satisfazem com o uso em sala de aula e pedem para jogar no recreio”, diz Claudete de Jesus, coordenadora da pré-escola e do primário.

E não foram apenas as crianças as beneficiadas com Pingo no i. O baralho vem sendo usado nas aulas de alfabetização e supletivo ministradas na fábrica da Mercedes-Benz pelo Centro Educacional do Sesi, em Diadema, na Grande São Paulo. A coordenadora pedagógica Dulce Bacelar Martinez recebeu a novidade com alegria: “Os adultos rejeitam as cartilhas de alfabetização, muito infantis. Baralho, ao contrário, é algo que eles vivem jogando.”

Tudo isso surpreende o paraibano César de Oliveira, o criador, hoje radicado em São Paulo. A idéia surgiu numa fazenda em Piedade, município de São Paulo, após uma noitada de buraco com amigos. “No dia seguinte, recortamos algumas lâminas de PVC que um artista plástico havia esquecido na fazenda e uma amiga desenhou as letras. Passamos o resto da tarde jogando e fomos aperfeiçoando a quantidade adequada de cada letra”, lembra.