As conquistas das mulheres neste século são inegáveis. Elas saíram de casa para entrar definitivamente no mercado de trabalho e na política. E, embora não sejam mais educadas somente para casar, quando uma moça fica muito tempo sem um parceiro há a convicção geral de que ela está infeliz ou em busca de alguém. Em compensação, com os homens, há a certeza de que o “solteirão” está felicíssimo. Mais um preconceito de uma sociedade ainda machista. Ninguém se conforma que uma mulher bonita e inteligente pode, sim, ser feliz sozinha. É o caso da windsurfista carioca Dora Bria. Vira e mexe, durante entrevistas sobre suas últimas vitórias no mar, surgem perguntas sobre as conquistas fora d’água. Mas quando ela diz que está solteira, se vê obrigada a explicar que é uma opção e não sinônimo de estar “encalhada”.

Mesmo com uma história vitoriosa no esporte – ela é seis vezes campeã brasileira e tricampeã sul-americana de windsurf –, a atleta, 38 anos, sente uma enorme cobrança por nunca ter se casado. “As pessoas perguntam por que, ficam com pena, como se o fato de uma mulher bonita não ter namorado fosse uma aberração”, espanta-se. Longe de ficar desesperada à procura de uma presa, Dora engrossa a lista de mulheres que, apesar da pressão externa, dizem que a solteirice e a felicidade não são estados incompatíveis. E rechaçam subterfúgios do tipo: falta homem na praça ou tem muito gay. “Simplesmente estou bem assim”, completa Dora. Seu último caso sério foi um affair de um mês com o ator Marcos Palmeira, no final de 1998.

Outro sinal da estranheza causada pela solteirice voluntária é o fato de uma mulher bonita e famosa não poder permanecer sozinha por muito tempo sem que logo comecem a surgir fofocas sobre supostos casos amorosos. Ou então de sua opção sexual. Recentemente, a atriz Maria Fernanda Cândido, a Paola da novela Terra nostra, foi o alvo do bombardeio. Eleita por telespectadores a mulher mais bonita do século, Maria Fernanda, 25 anos, afirmou que, diferentemente de sua insaciável personagem, não está à procura de um amor, mas se aparecer alguém será bom. Desde que a novela começou, a atriz já se viu obrigada a desmentir namoros com Raul Cortez, Thiago Lacerda, Gabriel Braga e até com o próprio diretor da novela, Jayme Monjardim. Durante o Carnaval, as atenções foram voltadas para a bailarina Joana Prado, a Feiticeira. Sozinha há um ano e meio, ela diz que não tem tempo para se dedicar a um amor. “Seria mais um problema”, afirma. Joana confessa, entretanto, que tem “uma pessoa especial” com quem sai de vez em quando. “Nos conhecemos antes mesmo de eu virar a Feiticeira”, completa ela.

Os especialistas concordam que ainda se cobra muito mais um parceiro para a mulher do que vice-versa. A solteira é algo pejorativo, uma mulher que não conseguiu se casar. “O solteirão é cobiçado, como se fosse um troféu, já a solteirona é uma pecha, alvo de piadinhas. Por isso, muitas mulheres, mesmo com a liberdade de escolha, ainda ficam com o primeiro que aparece”, diz a psicóloga carioca Sheiva Cherman.

Só que cada vez mais mulheres se cansam desse papel e preferem o celibato. Sobretudo para aquelas que já tiveram experiências de casamentos, a liberdade é um bem que não tem preço. A produtora de moda mineira Maria Aparecida Patida Maud, 41 anos, já foi casada quatro vezes. Há um ano e meio, ela está curtindo ficar sozinha. “Gosto de ter o meu espaço, me sentir livre. Em geral, eles podam a gente”, lamenta. O último companheiro implicava com os amigos, não queria sair. “Ele era superpossessivo.” Aparecida não arrisca dizer que não se casará de novo, mas acha difícil morar junto. A atriz paulista Iara Jamra, 44 anos, concorda. “Estou solteira e curto muito. Gosto de ficar em casa, sair com os amigos, sem dar satisfações.” Mas ela não diz “dessa água não beberei”. “Se aparecer um homem bacana, vou em frente. Mas cada um na sua casa.”
Na maioria das vezes, é dentro de casa que a tal cobrança de um marido se manifesta mais fortemente. A jornalista Astrid Fontenelle deixava a mãe de cabelo em pé com sua solteirice. Antes de se casar, aos 28 anos, a mãe sempre falava, como que se lamentando: “Uma menina tão inteligente, e solteira…” Para não perder a piada, a filha retrucava: “Por isso mesmo!” Depois do casamento, que durou seis anos e terminou em 1995, Astrid teve alguns relacionamentos, mas todos com um ponto em comum: cada um continua morando na sua casa. “A rotina acaba com tudo, até com o tesão”, diz, ressaltando que também não é nenhuma apologista da vida solitária. “Claro que namorar faz bem para a pele, mas não estou ansiosa.” Ou, como diz Dora Bria, é como no mar: não dá para se desesperar, senão se afoga