BANDEIRADA Speed Racer larga na frente com seu Mach 5

Antes do aparecimento de ídolos de verdade, como Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna, os brasileiros que gostam de automobilismo e de muita velocidade apaixonaram- se por outro piloto que, por ser apenas um personagem de animação, podia fazer as mais malucas manobras nas pistas. Trata-se de Speed Racer, protagonista de um dos desenhos animados mais queridos e populares dos anos 60. É justamente esse ás do volante que ressurge agora em todos os seus detalhes, uniforme branco e topete ao estilo de Elvis Presley, no filme Speed Racer, dos irmãos Wachowski (estréia no Brasil na sexta-feira 9). Esqueça a pseudo-intelectual trilogia Matrix, filme que deu fama a esses excêntricos cineastas de Chicago. Speed Racer é um anime (desenho animado japonês), que ficou conhecido no mundo todo em sua versão dublada para o inglês e chega às telas com roupagem ultrapop somente para divertir, e muito, o público. Já há quem diga que a dupla de diretores se infantilizou, mas o fato é que isso pouco importa. Andy e Larry Wachowski (ou Laurenca, pois corre a notícia de que ele teria mudado de sexo) mostram que têm talento nesse novo trabalho, e isso após cinco anos sem dirigir. Eles surpreendem com um filme-pipoca que mata a saudade de quem sabia de cor o refrão "go, Speed Racer, go" e promete aumentar ainda mais o fã-clube desse personagem cult, agora interpretado no cinema pelo ator Emile Hirsch.

O filme promete também ser pródigo em lucros para a Warner Bros e o produtor Joel Silver. Orçado em cerca de US$ 100 milhões, Speed Racer já faturou US$ 80 milhões mesmo antes de estrear, apenas com licenciamentos: seus personagens e máquinas envenenadas aparecerão em brinquedos Lego, lanches McDonald’s e uma série de outros produtos. Uma edição especial do sapato de Speed foi produzida pela Puma e a Petrobras patrocina um carro, o Green Energy, que está numa das mais emocionantes e disputadas corridas entre as tantas que compõem o filme. Nessas grandes cenas, tanto o Green Energy como o Mach 5 de Speed Racer são totalmente digitalizados. Como os GPs ocupam a maior parte da história, é fácil imaginar a exuberância dos efeitos especiais.

Para Speed Racer foi criado um mundo totalmente virtual. A cidade de Cosmópolis, onde fica a empresa automobilística do vilão Royalton, é composta por uma série de extravagantes edifícios, como o Swiss Re Tower, de Londres, projeto de Norman Foster, e o Banco da China, em Hong Kong, desenhado por I. M. Pei. Todos eles são iluminados por uma profusão de luzes de néon que vão do tom laranja ao violeta. Mais impressionante ainda é o cenário das corridas, como o rali Casa Cristo, no qual Speed Racer enfrenta uma verdadeira escória de pilotos cujos carros se digladiam na "car-fu" (kung fu automobilístico). O trajeto passa por cenários como o Vale da Morte, nos EUA, estradas escarpadas da Itália, desertos do norte da África e paisagens geladas da Áustria. Essas locações reais foram fotografadas em alta definição e depois reconstituídas, através de computadores, em panoramas de 360º. A partir daí, as inseriram nas cenas com os pilotos, valendo- se da técnica do fundo verde. Ou seja: os atores atuaram em esqueletos de carros diante desse telão colorido e o verde foi depois preenchido com as imagens de fundo.

Dito dessa forma, pode até parecer que Speed Racer é uma sucessão interminável de efeitos especiais com duas horas de duração. Até seria, se estivesse nas mãos de um simples operador de mouse. Um exemplo do alto artesanato dos Wachowski é a luta de toda a família Racer contra os mafiosos a serviço de Royalton. A cena passa- se no alto de uma montanha gelada e a briga é filmada de forma tão criativa que a neve que cai ao fundo transforma- se em riscos brancos horizontais a cada rápido movimento de câmera. Esse recurso é apenas um entre os inúmeros utilizados pelos diretores para criar no cinema o correspondente aos ângulos enviesados dos animes japoneses. A saturação cromática, por exemplo, que supera a definição de cores do antigo sistema technicolor, foi conseguida graças ao uso em primeira mão de uma câmera digital de última geração. O que é enfim Speed Racer? Vale o que disse o ator Emile Hirsch: "É um encontro entre Blade Runner e a pop art de Andy Warhol."