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Wladimir Duarte, 37 anos, não possui profissão definida, costuma passar de dez a 12 horas por dia diante de um computador jogando pôquer em sites americanos. No início do mês, ele foi detido com outras sete pessoas em um cassino clandestino às margens do Lago Paranoá, em Brasília, conhecido como BSB Texas Club. Na terça-feira 7, ele recebeu ISTOÉ na mansão onde funcionava a jogatina e afirmou que "só no Lago Sul funcionam outras dez casas de jogos". "Fui parar na polícia porque não fiz nada debaixo do pano", disse. Ousado, Duarte procura dar ao cassino roupagem de legalidade e revela como os adeptos da jogatina têm tentado burlar a legislação. Há dois meses, ele registrou no Cartório Marcelo Ribas o contrato social da Associação de Pôquer Competitivo do Distrito Federal, o nome oficial do BSB Texas Club.

A receita da associação vem de arrecadação feita nos torneios de pôquer. Ele afirma que, para participar dos torneios, os jogadores pagam em média R$ 100 de inscrição. Do total arrecadado, até R$ 9 mil são divididos entre os dez primeiros colocados e 10% ficam com a associação. Os valores são aparentemente pequenos, mas a movimentação do cassino é intensa.

Apenas em seu computador são mil os jogadores credenciados. "O mercado é enorme. Em Brasília há quatro mil jogadores profissionais de pôquer e mais de 30 mil pessoas que jogam pela internet regularmente", diz. De fato, a capital federal, segundo o sociólogo Lisias Negrão Nogueira, da USP, é terreno fértil para os jogos de azar. "As poucas opções de lazer favorecem isso", afirma.

Segundo o advogado Paulo Castelo Branco, ex-secretário de Segurança Pública de Brasília e ex-presidente do Tribunal de Ética da OAB, a ousadia de registrar em cartório uma associação que promove jogos complica a ação da polícia. "Será preciso uma ampla investigação para caracterizar a existência de jogos de azar naquela mansão", afirma. "Existem várias casas como aquela em Brasília", diz o advogado. Quando a polícia chegou ao BSB Texas Club, 40 pessoas jogavam no local. As mesas, fichas e baralhos foram apreendidos, mas poderão ser devolvidos em breve devido a um recurso jurídico, promovido por advogados da federação de pôquer. "Meu objetivo agora é lutar pela regularização do pôquer", diz Duarte. "Há liminares que permitem o funcionamento de casas como a nossa em São Paulo e no Rio", afirma. Se não faltam clientes, a briga de Duarte é com a Justiça. Aliás, promover jogos ilegais não é seu único problema judicial. Em 2005, ele foi acusado de se envolver com o traficante de ecstasy Michele Tocci. Duarte afirma que estudou na mesma sala de aula de Tocci e que trocou telefonemas com duas pessoas do grupo preso, mas nega ter traficado drogas.