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NO LANCE
A Ferrari e o leiloeiro Jonas Rymer: embora o preço
do carro já tenha caído 25%, o veículo não foi vendido.

Uma Ferrari vermelha conversível, ano 2011, tem repousado seus 460 cavalos de potência há cinco meses em um estacionamento no Rio de Janeiro. Carro dos sonhos dos amantes da velocidade, o bólido já foi a leilão duas vezes – algo inédito no País, segundo especialistas ouvidos por ISTOÉ –, mas não encontra comprador. O motivo divide opiniões: o valor pedido está alto demais ou a possante máquina está pagando o preço de ter pertencido a um traficante de drogas? Apreendido por agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) em 27 de junho, o veículo era do espanhol Oliver Ortiz de Zarate Martin, 35 anos, que está preso por lavagem de dinheiro e tráfico internacional. No primeiro leilão, em novembro, foi anunciado a R$ 1,190 milhão – cerca de R$ 160 mil a menos que um similar nas lojas. No segundo, na semana passada, o desconto de 25% não foi suficiente para fechar negócio. O próximo pregão está marcado para fevereiro.

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O traficante espanhol Oliver Ortiz de Zarate Martin, preso em junho. Acima, alguns de seus bens

“Bens raros, que são facilmente reconhecíveis, demoram a ser arrematados porque as pessoas temem que o próprio bandido, quando em liberdade, fique com raiva e tente retomar o que é seu”, diz o advogado Breno Melaragno, presidente da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB/RJ). O medo de algum tipo de represália de inimigos do traficante também pode afastar o seleto público com potencial de compra. O advogado esclarece, porém, que as seguradoras não podem levar isso em consideração e cobrar mais caro na hora de fazer a apólice.

O leiloeiro público Jonas Rymer, responsável pelas tentativas de venda do veículo, acredita que o preço elevado é o culpado pelo encalhe. Ele diz que em lojas de importados, uma Ferrari custa aproximadamente R$ 1,350 milhão, com garantia e possibilidade de o comprador experimentar a máquina. “Só vale a pena comprar em leilão quando o preço é convidativo, já que a pessoa não vê o carro antes e precisa pagar à vista”, explica. O preço é estipulado pelo Ministério Público, após duas avaliações de mercado. No dia 10 de fevereiro, o carro, que rodou apenas 1.721quilômetros, será oferecido a R$ 945 mil. Se ainda assim não encontrar comprador, novo pregão será realizado dez dias depois. E aí a Ferrari estará uma pechincha: R$ 710 mil, acrescido das custas legais. “Este preço é praticamente dado”, diz Rymer. No leilão dos bens de Martin na semana passada, foi vendida uma Harley-Davidson por R$ 34 mil – o preço inicial era R$ 38 mil.

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Nas mãos do traficante espanhol, que é tido como grosseiro e de difícil trato por seus ex-funcionários, a Ferrari modelo Califórnia costumava frequentar garagens privativas e espaçosas, como as mansões triplex de seu dono, na Joatinga, avaliada em R$ 4 milhões e outra de R$ 3 milhões, na Barra da Tijuca, ambos na zona Oeste do Rio. À noite, Martin gostava de ir à sua boate, The Room, no mesmo bairro, pilotando o modelo. O luxuoso veículo também já foi visto na Praia do Pepê, point da Barra frequentado pelo bandido, que é casado com uma brasileira e tem um filho. Martin adora o Brasil, onde vive desde 2009 e fez uma fortuna avaliada em R$ 20 milhões. À Polícia, ele explicou que a rota de seu “negócio” era marítima, com origem na Colômbia e destino para América do Sul, Austrália e Europa. O Brasil era um entreposto para lavar o dinheiro. 

Fotos: Masao Goto Filho; Osvaldo Praddo, everino Silva – Ag. O Dia