No Carnaval dos 500 anos, a mesmice tomou conta dos sambódromos. Apesar de bonitas, nem mesmo as vencedoras – Imperatriz Leopoldinense, no Rio, Vai-Vai e X-9, em São Paulo – surpreenderam as platéias. “É um belo espetáculo, mas perdeu a sua originalidade”, reclama Fernando Pamplona, ex-carnavalesco do Salgueiro. Cada vez mais, a festa parece feita somente para turistas. No Sambódromo de São Paulo, por exemplo, agora as apresentações são narradas em português, inglês, francês e espanhol. O tradutor Chuck Woodward chegou a ser entrevistado pelo repórter Britto Júnior, da Rede Globo, que o fez criar versões para os nomes das escolas. Na brincadeira, Vai-Vai virou “Go-Go” e Nenê de Vila Matilde, “Baby from Matilde Village”.
“A escola de samba atende hoje ao mercado consumidor”, confirma o pesquisador Hiram Araújo, autor do livro Carnaval, seis milênios de história. Nos dias de folia, os hotéis da zona sul do Rio de Janeiro tiveram 97% das suítes ocupadas. Na Bahia, até o rei Gustavo, da Suécia, virou folião. Ao vê-lo no camarote da Band, Astrid Fontenelle vibrou. “Vem cá, meu rei”, disse, pedindo uma entrevista.
 

O destaque dado pela imprensa ao desfile das escolas de samba do Grupo Especial paulista, que este ano ganhou mais um dia, irritou o prefeito carioca Luiz Paulo Conde. “O Rio de Janeiro criou o samba, a Bahia tem os trios elétricos e Pernambuco o frevo. São Paulo parece estar criando o rodeio carnavalesco, chatíssimo. Odeio o Carnaval de lá.” Mas ao que parece, a Globo, não. A emissora, que adquiriu os direitos de transmissão da festa até 2010, ao preço de R$ 2,5 milhões por ano, não abriu mão da exclusividade nem para os portais de Internet. Montou seu camarote no Anhembi para que súditos vips cumprimentassem Ana Maria Braga, a madrinha do Carnaval 500. Com isso, alcançou médias de 16 pontos de audiência na sexta e no sábado – no Rio, foram 14 no domingo e 16 na segunda. Até a transmissão da apuração paulistana deu Ibope: 23 pontos, o mesmo que costuma dar o Topa tudo por dinheiro, de Silvio Santos.


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