Assista ao vídeo com trechos do lançamento e com a história do clássico “Mary Poppins”:

IstoE_MeryPoppyns_255.jpg

 

3.jpg

Mary Poppins já tinha 30 anos em 1964, quando estreou no cinema. Durante as duas décadas anteriores, Walt Disney, dono da maior fábrica de filmes infantis do mundo, tentou sistematicamente convencer a criadora da babá que viaja de guarda-chuva a ceder os direitos autorais para a produção do musical. O empresário argumentava que se tratava de algo muito mais importante para ele que mais um produto: era uma promessa feita às filhas, leitoras vorazes das aventuras da personagem que se apresentava como “uma pessoa praticamente perfeita”. Disney conseguiu presentear as herdeiras. E ganhou naquele ano mais dólares com “Mary Poppins” do que com recordistas de bilheteria do período como “My Fair Lady” e “A Noviça Rebelde”.

A história de como essa história chegou ao cinema é o mote da maior promessa destas férias para o cinema. “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”, dirigido por John Lee Hancock, acaba de estrear nos Estados Unidos e chega em fevereiro ao Brasil. Traz Tom Hanks no papel do criador dos estúdios Disney e Emma Thompson na pele (e tailleurs) da intransigente e áspera P.L. Travers, autora dos livros sobre a empregada voadora, seu amigo limpador de chaminés e a desfuncional família Banks.

2.jpg

Para além da atualidade do tema – pais ausentes, filhos infelizes –, Mary Poppins chega aos 50 anos de filme (e 80 de vida, já que o primeiro livro saiu em 1934) com a vivacidade de quem ainda pode arrebatar prêmios e novos fãs graças à originalidade de sua composição. Uma das missões do novo filme parece ser mostrar justamente a batalha de anos entre a escritora e o entertainer – dois ícones em suas áreas de atuação – como espuma criativa para o filme de 1964, que reúne a teatralidade verbal exigida pela escritora e a embalagem fantasiosa dos produtores – não por acaso, o filme atraiu Emma Thompson, uma das maiores representantes do teatro shakespeariano no cinema e cocriadora de uma outra babá com reconhecimento internacional, Nanny McPhee.

1.jpg
SEDUTORES
Os irmãos e compositores Richard e Robert Sherman, autores da trilha sonora que valeu a
“Mary Poppins” dois Oscar (melhor trilha e melhor canção original por “Chim-Chim-Cheree”),
são homenageados no filme. Eles convenciam autores relutantes em ceder os
direitos às suas histórias criando canções irresistíveis para seus personagens

E, como não poderia deixar de ser, muita música boa. Richard Scherman, que ao lado do irmão Robert criou as grandes trilhas musicais da Disney, é consultor musical e personagem do filme e o processo criativo da dupla lendária é possivelmente um dos maiores tesouros da produção. Entre os extras da edição comemorativa do musical de 1964, em blu-ray, cenas de Scherman dirigindo seu intérprete mostram que o trabalho dentro dos estúdios Disney nos anos 1960 não era para os fracos.

4.jpg 

Apesar da empáfia intelectual do retrato de Ms. Travers, a verdade é que, como atriz, autora de livros adultos e professora de estudos celtas, a única obra que lhe rendeu reconhecimento foi mesmo “Mary Poppins”, redação produzida para se distrair da recuperação de um acidente e que, no final das contas (seis livros, um filme e um musical), a sustentou até morrer, em 1996. A biografia “Mary Poppins, She Wrote – The Life of P.L. Travers”, que volta agora aos sites de venda de livros na esteira do aniversário, conta que Travers rejeitava a ideia de escrever para crianças e que só o fez graças à insistência dos amigos diante do enredo fantasioso e comovente e de seu potencial comercial.

5.jpg

O título original do novo filme dá pistas do quanto de redenção existe dentro da narrativa aparentemente lúdica de “Mary Poppins”. “Saving Mr. Banks” sugere que a missão babá, na ficção de Travers, não era salvar as crianças da ausência paterna, mas sim o pai, desconectado da família pelo trabalho no banco (o mesmo emprego do pai da autora na vida real). E assim, o filme também redime a intratável e rabugenta Ms. Travers, de quem, segundo o jornal “The New York Times”, nem sua biógrafa gostava.  

Fotos: divulgação; Everett collection/glow images