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BOLA DE MEIA
Leonardo Lima, como Pelé aos 10 anos

No saguão do “Hotel Tourist”, hóspedes bem-vestidos misturavam-se a jogadores de futebol de agasalho esportivo verde e amarelo, que faziam embaixadinhas e outros malabarismos com uma bola preta de couro. De repente, um tal de Garrincha levanta a pelota com a lateral externa do pé e toca para o lateral direito Djalma Santos, que dá um chute de primeira. A bola passa como um foguete por cima da cabeça dos presentes e sai zunindo porta afora. Os turistas ficam atônitos; os atletas saem em disparada atrás da bola – e, entre eles, um menino pretinho e com topete, que de tão franzino mais parecia ser o mascote do time. O lance aconteceu em 1958, na pequena cidade de Hindas, na Suécia, onde a Seleção Brasileira estava hospedada para disputar a Copa do Mundo daquele ano. Agora, foi reproduzido fielmente no hall do Hotel Quitandinha, em Petrópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro, como parte do filme “Pelé”, produção americana escrita e dirigida pelos irmãos Michael e Jeff Zimbalist sobre o início da carreira de Edson Arantes do Nascimento, o garotinho da cena, que a partir daí se despontaria como o Rei do Futebol.

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Seleção na Suécia em 1958 (no alto, à dir; o craque
é o primeiro): das peladas aos gramados internacionais
 

Gravar cenas com bola, o que exigia um mínimo de habilidade dos atores escalados, foi um dos maiores desafios da produção. “Esse cara é um perna-de-pau! Chutou mais de 50 vezes para acertar uma”, zombava a figurante Anna Schlosser, uma senhora de 77 anos e traços europeus, que ganhou R$100 para se passar por hóspede. Ela se referia ao jogador profissional e aspirante a ator Fabiano Bandeira, 29 anos, que interpreta Djalma Santos. Outra cena, dessa vez com o verdadeiro Pelé, também deu trabalho. “O Pelé estava em uma das mesas do hotel tomando café e uma bola acerta a xícara dele. Essa gravação foi repetida mais de 30 vezes porque ninguém acertava o chute”, diz Anna. A Prefeitura do Rio investiu R$ 1 milhão no projeto, liberando locações como o campo do América Futebol Clube, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que se tornou o Estádio Rasunda, de Estocolmo, palco da final da Copa de 1958. Na competição, o Brasil venceu a seleção sueca por 5 a 2, com dois gols do Rei, o último deles após driblar dois adversários na área. Outra cena refeita dezenas de vezes.

Orçado em US$ 15 milhões, o filme vai retratar o mito Pelé desde a infância pobre em Bauru, interior paulista, onde o menino jogava bola com laranjas, até o surgimento do craque nos gramados da Suécia. A relação conturbada com o pai, João Ramos do Nascimento, o Dondinho (vivido por Seu Jorge), e a repulsa do jogador pelo apelido que o tornou famoso são abordados. “O filme conta os obstáculos, a dor, os desafios e erros e percalços vividos por esse jovem no seu caminho rumo à glória”, afirmou Michael Zimbalist. Para interpretar Pelé, dois jovens brasileiros foram selecionados entre candidatos do mundo inteiro: Leonardo Lima Carvalho vive o jogador até os 10 anos, época em que era conhecido como Dico; Kevin de Paula ficou com o período entre os 15 e 17 anos.

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Para viver o “Rei” no cinema, Kevin de Paula ganhou R$ 30 mil de cachê. “Pelé era fisicamente menor e tinha menos experiência de vida do que a maioria dos homens em campo. Um garoto que amadureceu e encontrou seu lugar no mundo mais rápido do que qualquer ser humano que eu consiga imaginar”, afirmou Jeff Zimbalist. Ainda no elenco brasileiro, Rodrigo Santoro foi escalado como um locutor esportivo. Entre os nomes estrangeiros, Vincent D’Onofrio ficou com o papel do técnico Feola e Colm Meaney com o do seu rival sueco George Raynor. Pelé é um dos produtores ao lado de Brian Grazer, de “O Código Da Vinci”. O longa tem estreia prevista nos EUA para 28 de maio de 2014, 15 dias antes do início da Copa do Mundo. As perspectivas são ótimas, pois se os americanos não são o bons no futebol, em cinema são craques.  

Fotos: Francisco Luiz Melatti/ Divulgação