Desde que lançou Vergonha dos pés, em 1996, a escritora fluminense Fernanda Young passou a ser tratada com bastante deferência. Alçada a este patamar, ela pelo menos se sente à vontade para discutir a atividade literária e o que cerca a feitura de um livro, tema de seu quarto romance, As pessoas dos livros (Objetiva, 144 págs., R$ 16). Nele, Amanda Ayd, alter ego de Fernanda, atravessa uma crise criativa e existencial. Cultiva pelo mundo um distanciamento que beira o patológico. Em seus monólogos, o olhar sobre as pessoas é vertical e impiedoso, o que, no fundo, pode ser atribuído ao seu esforço para superar o fato de que não é mais “a mulher da vida de Edmund”. Este, com dois filhos e um novo amor, também não vive seus melhores dias. Os dois se tangenciam num universo habitado por editores, publicitários, designers. A certa altura, Amanda aceita que toda obra retrata fielmente o artista, mas todo seu trabalho de escritora é no sentido de desfocar seu retrato. Exatamente o que Fernanda Young fez com seu livro.