A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), dona de usinas nos Estados Unidos e em Portugal, quer ampliar ainda mais o seu processo de internacionalização. O empresário Benjamin Steinbruch, principal acionista da empresa, fez uma oferta ousada – US$ 8 bilhões, valor um pouco maior que o da própria CSN – pela siderúrgica anglo-holandesa Corus e passou a semana passada em Londres, tentando amarrar o negócio. Se tiver sucesso, ele alçará a CSN da 49ª para a 5ª posição entre as maiores produtoras de aço do planeta. Não será fácil. A indiana Tata Steel também tenta comprar a Corus e poderá elevar a oferta que havia feito recentemente e que foi superada em 4,4% pela proposta da CSN. Nessa guerra de titãs, Steinbruch tem seu maior trunfo encravado na cidade de Congonhas, em Minas Gerais: a Mina Casa de Pedra.

É da Casa de Pedra que a CSN retira todo o minério de ferro do qual necessita. O suprimento abundante e de alta qualidade é um grande cacife para a siderúrgica brasileira na negociação da Corus. Hoje, a mina produz 17 milhões de toneladas de minério de ferro. O plano de Steinbruch é elevar gradualmente a produção até a marca de 53 milhões de toneladas em 2010. Para isso, estão sendo investidos US$ 919 milhões. É uma propriedade tão valiosa que Steinbruch planeja separá-la do grupo, abrir seu capital e lançar ações na Bolsa de Valores, obtendo parte dos recursos de que precisa para comprar a Corus. Analistas já avaliaram a Casa de Pedra em até US$ 4 bilhões, cifra que o empresário considera abaixo do potencial.

A compra da concorrente traria ganhos expressivos para as duas empresas. Há muitas possibilidades de sinergia. A Corus produz aço para aviação, setor em que a produtora brasileira não atua. Enquanto a empresa européia tem canais de distribuição e venda na Europa e nos Estados Unidos, a de Steinbruch é auto-suficiente em matéria-prima e tem um dos custos de produção mais baixos do mundo. A Corus necessita de matéria-prima de alta qualidade para suas laminadoras na Europa e a CSN não consome nem metade da produção da supermina de Congonhas. “A siderúrgica brasileira conseguiria um cliente cativo para o minério produzido por Casa de Pedra”, diz Alexandre Dória, sócio da consultoria Voga Advisory. Hoje, o excedente é absorvido pela Vale do Rio Doce. Até agora, a falta de um comprador garantido para a produção vem atrapalhando a oferta pública de ações (IPO) da mina. Assim, se a visão do empresário se confirmar e as ações da mina se valorizarem, os papéis da própria CSN seriam vistos pelo mercado com outros olhos.

No rastro da compra da siderúrgica européia Arcelor pela indiana Mittal, o apetite da CSN entra no contexto de consolidação do setor de siderurgia, que ainda é muito fragmentado. Para se ter uma idéia, a Mittal-Arcelor, a maior do mundo, é responsável somente por 10% da produção mundial de aço. A segunda do ranking, a Nippon Steel, detém apenas 3% do mercado. Com isso, os produtores de aço ficam esmagados entre dois oligopólios. O dos três grandes produtores de minério de ferro, responsáveis por 75% de toda a produção mundial, entre os quais se destaca a Vale do Rio Doce. E o dos compradores de aço, um oligopólio da indústria automobilística e, em menor escala, de construção civil. “Como a concentração de mercado é baixa quando comparada a quem compra aço e vende matéria-prima, isso tira vantagem e poder de barganha das siderúrgicas”, diz Bruno Rocha, analista da consultoria Tendências.