O Brasil se livrou de um vexame internacional. Convidado a engrossar a tropa de paz que vai tentar colocar ordem na casa no Timor Leste, coube ao pessoal de Brasília, munido de sua endêmica dificuldade de tomar decisões rápidas e acertadas, armar a já rotineira confusão. A empreitada é pauta obrigatória para revistas, jornais e tevês. Afinal, conforme o relato do repórter Eduardo Hollanda à pág. 114, desde 1965 o Brasil não vai à guerra. E, por conta disso, durante a semana mais de 70 jornalistas se inscreveram para cobrir o evento e embarcar nos aviões Hércules da FAB que transportarão os soldados a Darwin, na Austrália.

Falava-se numa tropa entre 300 e 800 soldados. A definição seria dada pelo presidente. O problema é que a decisão teve de ser tomada durante mais uma semana infeliz para Fernando Henrique Cardoso. Atingido na segunda-feira 13 por mais uma daquelas pesquisas em que a sua falta de popularidade vai aos píncaros (já chega aos 65% o número de brasileiros insatisfeitos com sua performance), FHC começou a semana mal.

Inconformado, o presidente foi à guerra e partiu para cima do Congresso, cobrando a votação das reformas. Irritou ACM e até Michel Temer. Atrapalhado, voltou atrás no dia seguinte e levantou a bandeira branca, pedindo constrangedoras desculpas públicas. Tripudiado por ACM, que disse que FHC "pisou na bola", atrapalhou-se de novo e voltou atrás mais uma vez: negou que tivesse se desculpado. Na terça-feira 14, o dia da desculpa, recebeu os ministros Élcio Álvares e Luiz Felipe Lampreia para decidir afinal quantos soldados brasileiros iriam ao Timor. Eram três as hipóteses: um batalhão de 850 homens, ou 200 a 300 especialistas em guerra na selva ou um pelotão de soldados da Polícia do Exército. Informado da possibilidade de baixas, optou pelo modestíssimo pelotão de 51 homens da PE, fortalecido por mais três PMs do Distrito Federal. Aí o vexame. Eram menos soldados do que jornalistas. O desembarque dessa tropa mista, toda ela dentro de um só Hércules, em Darwin, na Austrália, centro das atenções mundiais, iria ser no mínimo hilariante. Cancelaram o transporte dos jornalistas.