A decisão final foi tomada na noite de terça-feira 14 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso: o Brasil vai mandar somente 51 homens da Polícia do Exército e mais três PMs do Distrito Federal para integrar a Força Internacional destinada a impor a paz no Timor Leste. FHC optou pelo menos expressivo dos três cenários – um batalhão de 850 homens, equipados com carros de combate; 200 a 300 especialistas em guerra na selva ou um pelotão de soldados da PE – e conseguiu desagradar dos militares ao Congresso. “É lamentável a atuação do presidente diante da projeção que o Brasil poderia ter no cenário internacional”, afirmou Carlos Alberto de Almeida, coordenador do Comitê Brasiliense de Soliedariedade ao Timor Leste.

O Brasil foi um dos primeiros a responder positivamente a uma força internacional e à intervenção no Timor Leste. “Havia um consenso de que mandar um batalhão seria muito caro. Agora, 50 soldados apenas, para um país que é uma das dez maiores potências industriais do mundo e que quer ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, é muito pouco”, afirma o deputado Antônio Carlos Pannunzio (PSDB-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara. “É uma participação pífia”, diz o deputado Pedro Valadares (PSB-SE), integrante da delegação que acompanhou no Timor o plebiscito de 30 de agosto que decidiu pela independência do país.

Pannunzio pediu na quarta-feira 15 uma audiência com FHC, mas não obteve resposta. “Não acredito nessa história de veto econômico. É achar que o Malan manda até nos militares. Algo mais sério influenciou a decisão do presidente”, diz. FHC pode ter se assustado com a possibilidade real da morte de soldados brasileiros. Afinal, as milícias pró-Indonésia estão promovendo massacres no país. Outro argumento são os gastos: o pelotão da PE vai custar US$ 3,5 milhões pelos quatro meses de missão.
Esse é o primeiro envio de tropas do Brasil para combate, desde a intervenção patrocinada pelos americanos na República Dominicana em 1965 para derrubar um governo de esquerda. Na sexta-feira 17, os soldados foram apresentados à imprensa em Brasília. “Minha mulher e milha filha de 13 anos levaram um susto quando falei que ia ser voluntário”, disse o major Fernando do Carmo Fernandes, comandante da tropa brasileira. No Timor, para onde segue nesta segunda-feira 20, a tropa brasileira fará o policiamento das cidades e das estradas, garantindo o retorno dos moradores. Os diplomatas brasileiros vão procurar estreitar os laços com a cúpula do futuro país – o líder guerrilheiro Xanana Gusmão e os ganhadores do Nobel da Paz, José Ramos Horta e o bispo Carlos Ximenes Belo. Os principais pedidos dos timorenses são apoio à formação de administradores, aproveitando o fato de a língua oficial do Timor ser o português.

Colaborou Kátia Mello