Os russos tiveram na última semana a confirmação de que atitudes normais na vida de qualquer pessoa como entrar em prédios públicos, ir às compras ou mesmo ficar em casa representam, no momento, uma situação de alto risco. A onda de terror começou no dia 31 de agosto. Desde então, seis misteriosas explosões deixaram saldo de pelo menos 296 mortes no país. Volgodonsk, no Sul da Rússia, a 1.200 quilômetros de Moscou, foi o alvo na quinta-feira 16. A cidade, de 250 mil habitantes, entrou na rota da insegurança quando um caminhão-bomba arrasou um prédio de 144 apartamentos, matou 17 pessoas – entre elas duas crianças – e deixou mais de 200 feridos. O impacto do estrondo abriu um imenso buraco no chão e reduziu a pó a fachada do edifício, que abriga mais de 400 moradores. Os russos tremem de medo e não sabem o caminho que leva à defesa da própria pele. Até agora, não possuem elementos suficientes para identificar o inimigo, pois o tempo passa e nenhum grupo assume a autoria dos atentados.

A ação em Volgodonsk foi atribuída pelo governo do presidente Boris Yeltsin a rebeldes islâmicos da Chechênia, que lutam com tropas russas pelo domínio da república vizinha do Daguestão, no Cáucaso, Sul do país. Parte da Federação Russa, as duas repúblicas têm população de maioria muçulmana, enquanto na Rússia prevalecem os cristãos ortodoxos. O Kremlim usou o mesmo raciocínio para justificar toda a sequência de terror. No dia 31 de agosto, uma explosão num shopping de Moscou matou uma pessoa e feriu 40. Quatro dias depois, um carro recheado de explosivos foi para os ares em Buynasksk, no Daguestão, e mais 64 pessoas perderam a vida.

Onze mil prisões – No dia 9 de setembro, uma bomba fez ruir outra construção em Moscou e mais 94 mortes foram somadas à contabilidade macabra. Mais quatro dias e outros 118 morrem no pior atentado da série, também na capital. Horas depois do ataque em Volgodonsk, na quinta-feira 16, duas pessoas morreram numa explosão em São Petersburgo. O ministro do Interior da Rússia, Vladimir Rushailo, afirmou que o episódio estaria "desvinculado" das cinco ações anteriores, mas as dúvidas persistiram. Até a noite de sexta-feira 17, a polícia russa havia detido mais de 11 mil suspeitos. De acordo com o governo, pelo menos 30 deles teriam participado das ações.

Uma pergunta ainda não teve resposta: se os ataques são patrocinados por rebeldes chechenos para marcar posição, por que nenhum grupo ligado à república assumiu as explosões? A situação abriu espaço, no país, para várias teses. A mais ousada prega que as explosões teriam sido organizadas por grupos ligados a Yeltsin. Criticado e rejeitado pela maioria dos russos às vésperas das eleições parlamentares, o presidente herdaria o cenário ideal para declarar estado de emergência e suspender as eleições, marcadas para dezembro. As pesquisas sugerem um bom desempenho da oposição. Por isso, muitos chegam a apostar até mesmo na renúncia de Yeltsin em favor do premiê, Vladimir Putin, o preferido para a sua sucessão, em 2000. Por enquanto, o presidente dispara frases de efeito. "Temos a força e os meios para banir o terrorismo." Assustados, os russos esperam descobrir quem ataca para cobrar dos que realmente podem defendê-los. Se possível, antes da próxima tragédia.