Graças ao jornalista e apresentador Amaury Jr., o suicídio do gato de João Gilberto, uma das lendas mais conhecidas do cenário artístico – a triste história do bichinho que, enlouquecido depois de passar dias trancado ouvindo o cantor repetir a mesma nota musical, teria se atirado pela janela –, parece ter adquirido status de fato consumado. O responsável involuntário do tresloucado gesto felino foi o empresário do show biz Manoel Poladian. Ao entrar no apartamento do cantor, num daqueles prédios altíssimos de Nova York, ele se assustou com o ar viciado e a escuridão que ali reinavam, abriu a janela para arejar e lá se foi o gato. A história contada ao apresentador pelo próprio Poladian é um dos muitos casos encontrados no livro Flash fora do ar – revelações e histórias dos 18 anos do programa Flash (Editora Elevação, 192 págs., R$ 26), que reúne casos saborosos confidenciados ao autor nos bastidores de seu programa noturno, que vai ao ar diariamente pela Rede Bandeirantes.

Como se trata de sua estréia em livro, Amaury Jr. juntou à coleção de mundanidades, dicas e conselhos para futuros jornalistas. Também conta façanhas próprias. Diz que certa vez trocou uma suíte no hotel Caesar Palace de Las Vegas por uma entrevista com o cantor country Kenny Rogers, cuja mãe não tinha reserva para o Réveillon. Ou de como conseguiu convencer a mulher do ex-presidente João Baptista Figueiredo, a animada dona Dulce, a posar ao lado de um carro recém-lançado, numa descarada jogada promocional. Mas o forte de Flash fora do ar são as conversas informais com os entrevistados, entre uma tomada e outra, com as câmeras desligadas. Foi num destes momentos que a atriz Marisa Orth contou-lhe um divertido episódio ocorrido durante a sessão de fotos que ela fez para a revista Playboy. A idéia era que ela posasse ao lado de uma cachorra pastora alemã. Enquanto trocava de roupa, ouviu um técnico dizer: “É bonita, mas está com as tetas caídas.” Marisa, que já se preparava para voar em cima da pessoa, olhou bem no espelho e fez nova avaliação. Achou que estava tudo bem e só depois se deu conta de que falavam era do animal.

Colunismo – Para conseguir passagens como esta foram muitos anos de “janela”. Aos 14 anos, em sua cidade São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, o apresentador já atacava de microfone em punho no programa Desfile social. Depois de passar por várias redações, já na capital o jovem teve uma sacada que mudaria sua vida. Por que não levar a coluna social do jornal para a televisão? Nascia, assim, o colunismo eletrônico – os lendários Ibrahim Sued e Sérgio Porto tiveram programas em sua época, mas exclusivamente calcados em suas próprias imagens, uma vez que eram celebridades. Na então TV Gazeta, Amaury conseguiu apenas cinco minutos, o que o levou a comentar: “Mas isso não é um programa, é apenas um flash.” Mal imaginava que tinha cunhado o nominho mágico do programa que só na Bandeirantes é transmitido há 16 anos, sempre nas madrugadas. “É claro que nesse meio tempo surgiram vários convites para mudar de casa, praticamente de todos os canais, mas eu não creio que se deva mexer em time que está ganhando.”

Gente – De acordo com Amaury, a nova tendência do jornalismo é dar mais importância ao apresentador, aos assuntos de variedades, fofocas. “A gente percebe isso diante das novas contratações da Rede Globo ou do mercado editorial com o surgimento de revistas como a ISTOÉ Gente ou através de livros como o meu e do Mário Prata, Minhas mulheres e meus homens, cheios de histórias engraçadas.” Aos 48 anos, casado com Celina, pai de um casal de filhos, Amaury de Assis Ferreira Júnior sonha com o dia em que vai se aposentar e deixar de ser obrigado a frequentar festas. Gostaria de ficar ouvindo só histórias como a contada por seu amigo Érico Pereira, um dos sócios da célebre boate paulistana dos anos 70 Ta Matete. Ao barrar um cliente com a justificativa de que estava acompanhado de uma mulher de aparência duvidosa, Érico ouviu do senhor a explicação: “Ela não é duvidosa. É p… mesmo. Duvidosas são essas que estão sentadas aí.” A noite não diverte apenas, faz render situações memoráveis.