O carioca Luiz Antônio Viana estava sossegado em abril, na sua sala no segundo andar do edifício-sede do grupo Pão de Açúcar, em São Paulo, quando o telefone tocou. Do outro lado da linha, um head-hunter lhe fazia uma proposta de emprego. Como diretor-superintendente da rede de supermercados de Abílio Diniz desde 1991, Viana não pensava no assunto. Só que a proposta era tão interessante que o convite foi aceito na hora. Mudou de emprego, de cidade e virou presidente da segunda maior empresa nacional, a BR Distribuidora. Desde então todas as suas energias estão concentradas em transformá-la num híbrido de companhia pública com espírito de companhia privada para, assim, manter a liderança num setor cada vez mais competitivo. “A BR pode ser eficiente mesmo sendo estatal”, resume o executivo, deixando transparecer que nem mesmo as amarras financeiras impostas às empresas do Estado serão empecilhos. “Estes obstáculos não são insuperáveis.” É claro que atrapalham. Nada, no entanto, que impeça este engenheiro mecânico, tataraneto de Cândido José de Araújo Viana, o Mar-quês de Sapucaí, de defender suas idéias modernizadoras. “Quero vender ações da BR para os funcionários da empresa”, anuncia. A seu favor conta o fato de o novo conselho de Administração da Petrobras – a quem cabe aprovar ou rejeitar mudanças na BR – ter um perfil privatista.

Revolução – Enquanto isso não ocorre, Viana vai implementando suas medidas de choque. O primeiro golpe contra o jeito estatal de ser da BR passou despercebido dos consumidores. “Praticamente já zeramos o estoque de 500 milhões de litros de álcool feito em maio de 1998 sem nenhum motivo especial.” Os próximos serão mais visíveis. No começo de setembro, foi lançado um programa de milhagem em parceria com a Varig. Em mercado, teste até o fim do ano, o programa vai começar por São José dos Campos, em São Paulo. De cada R$ 3 gastos na rede de 7.500 postos de bandeira BR, o consumidor ganha uma milha. Na sequência, Viana vai atacar o visual dos postos BR. “Estamos ultrapassados em relação à concorrência”, admite ele, sem especificar quanto pretende gastar para modernizar a imagem da BR. Para completar, a empresa vai desatar algumas amarras para se tornar mais competitiva e rentável. Decidiu, por exemplo, vender a participação acionária que detém nas oito transportadoras que movimentam seus combustíveis. Há quem diga que, por estar comprometida com elas, a BR pagava, pelo menos, 20% a mais pelos fretes de seus combustíveis. Além de embolsar cerca de R$ 45 milhões pelas ações, ela deverá economizar R$ 100 milhões dos R$ 500 milhões gastos anualmente com os transportadores.

Guerra desleal – O maior problema da BR, assim como o da concorrência, é a perda de mercado para novas distribuidoras. “Estamos em guerra. E a briga não é das grandes distribuidoras contra as pequenas, mas das distribuidoras sérias contra os sonegadores. É impossível competir contra quem não paga imposto”, brada Alísio Vaz, coordenador do grupo de combate ao comércio irregular do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustível (Sindicom). “Essa batalha de preços é sempre suicida, ou melhor, autofágica”, resume Viana. Ele está convencido de que a disputa de mercado com as distribuidoras de pequeno porte e a concorrência predatória pegaram as grandes redes de surpresa. “Todos estavam acostumados com um mercado regulado pelo governo.” Para superar os problemas, Viana pretende aplicar na BR tudo que aprendeu nos quase oito anos em que ocupou o cargo de diretor-superintendente do Pão de Açúcar. Viana está tão convencido de seus propósitos que trouxe outro executivo do varejo para ajudá-lo. É o ex-diretor-financeiro da rede Ponto Frio Roberto Botelho. “Montamos um time de garra.” Além de Botelho, Viana chamou dois outros executivos da Petrobras e está em negociação com um outro da área de comunicação que deverá sair de uma rede de televisão. Tudo para vender combustível com a mesma agilidade de um supermercado.


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