Poderia ser em Ascott, mas foi nos arredores de Indaiatuba, a 90 quilômetros de São Paulo. O convite para o Porsche Polo Day, no sábado 11, pedia traje esporte e recomendava às senhoras o uso de chapéu. Local: um haras. Cenário: tendas brancas armadas no alto de uma colina, a grama verde impecavelmente aparada. Cerca de 1.500 pessoas aceitaram o convite para uma programação que, além de bufê árabe regado a Moët Chandon e Johnny Walker blue label, incluía um jogo de pólo. Guarda-roupa predominante: jeans e batas neo-hippies e o inevitável pretinho básico. Sem esquecer dos chapéus, claro, que a ventania insistia em levar. O problema era a diversão. Tinha muita gente entediada. O pólo é um jogo cheio de regras, mais complicado do que a agenda da Adriane Galisteu, e aparentemente não tem nenhum esquema tático – todo mundo (quatro cavaleiros em cada time) corre com um taco atrás de uma bolinha. A torcida é discretíssima e ninguém xinga a mãe do juiz. Uma partida de pólo é meio sem graça, pelo menos para quem assiste, mas, felizmente, a principal atração do dia era o Concurso de Elegância de Automóveis Porsche.

Qual o sentido de se escolher o Porsche mais elegante? Por que não escolher a mais bela geladeira ou o aspirador de pó mais simpático? Um carro, afinal, é uma máquina como outra qualquer. Ou não é? De jeito nenhum. O automóvel é um ícone da existência moderna, muito mais do que o arranha-céu, a bomba atômica ou o horrível penteado do Bill Gates. O automóvel significa alguma coisa, muito mais do que não precisar andar a pé. Significa poder, controle, autonomia e liberdade. E um Porsche, então… Porsche é o afrodisíaco mais eficaz que existe. É impressionante: é só dirigir um que as garotas logo irão achá-lo lindo. É o brinquedo que todo marmanjo gostaria de ter. Até hoje saíram menos de 50 mil da fábrica em Stuttgart. Estimam-se em 500 os Porsches rodando no Brasil, e 135 deles foram a Indaiatuba participar do concurso. Vieram pela rodovia dos Bandeirantes – tirando um racha, evidentemente.

Apenas dois carros eram pilotados por mulheres, e Silvana Jorge Pires era uma delas. Ela trouxe um Boxter 98 vermelhinho, do seu irmão Dener, dono da oficina Stuttgart, o mais respeitado restaurador de Porsches de São Paulo. Mulheres que entendem de carros são uma raridade neste mundo de rebimbocas e parafusetas, mas Silvana cresceu em uma família de fanáticos por automóveis e compreende perfeitamente o significado de pilotar um Porsche, que ela resume em uma frase: “Não dá pra andar devagar.” Silvana é pé-de-chumbo. “Uma BMW quis tirar um racha comigo”, ela conta rindo. “Mas só aguentou até 170… foi só pisar um pouquinho e tchau.” O carrinho é sensacional. “Você entra na curva do jeito que vier que ele gruda no chão.” É emocionante ouvir o ronco – vrum, vruuuummm! – do motor: “Soa como acordes maravilhosos”, define Silvana.

O único problema com o Porsche é que os ladrões também prestam a maior atenção nele. É por isso que raramente se vê algum rodando por São Paulo – seus donos preferem passear na estrada, onde a velocidade garante a segurança.

No final da tarde, os cinco juízes já tinham escolhido o Porsche mais elegante: um 356 Speedster 1600 Super, ano 1958, uma série construída especialmente para a ensolarada Califórnia, um conversível despojado, sem vidros nas janelas que dá 160 por hora. Quando surgiu, essa escultura sobre rodas custava US$ 2.995; hoje vale US$ 150 mil. “Só existem dois no Brasil”, diz Sérgio de Magalhães Filho, seu orgulhoso proprietário. Ele tem outros três Porsches, mas esse 356 é a jóia da coroa. Tão valiosa que, mesmo sendo um príncipe da velocidade, vai voltar para casa em uma carreta.