Quem é que, 10 ou 20 anos atrás, não calculou que idade teria no ano 2000? Trinta e dois, 44, 57… Hoje, contas não são mais necessárias e a pergunta é outra: o que estarei fazendo quando o relógio marcar a meia-noite do dia 31 de dezembro? Para algumas pessoas, estourar champanhe e ver fogos de artifício não bastam. Elas têm projetos bem diferentes, alguns até absurdos, para celebrar o novo milênio (que, se a rigor, só vai acontecer na passagem para 2001, o consenso popular decidiu que é neste Réveillon mesmo).
Na Califórnia, a febre são as cápsulas do tempo. Elas são caixas de metal de alta durabilidade, que podem ficar enterradas centenas de anos preservando seu conteúdo da ação do tempo. Milhares de pessoas já desembolsaram cerca de R$ 10 mil para adquirir uma delas e querem festejar a passagem do ano com uma pá na mão, enterrando seus objetos pessoais para a posteridade. Do jeito que as coisas vão indo, brechó é o que não pode faltar no futuro para dar conta de tanta quinquilharia. A Sociedade Internacional de Cápsulas do Tempo, que guarda a localização de cada caixa, diz que dez mil foram enterradas sem registro e que a chance de que sejam encontradas algum dia é de uma em mil. Na Nova Zelândia, há planos para a construção de um grande “Cofre do Milênio”, e esse, definitivamente, não vai ficar perdido. Ele será recheado com dezenas de objetos do século XX e enterrado embaixo de um monumento com entalhes em bronze.

Outros projetos são mais imediatos. Barbara Kingan, 46 anos, uma inglesa divorciada e mãe de três filhos, contratou uma empresa de relações públicas para encontrar para ela um marido para o próximo milênio. E faz questão de passar o Réveillon a seu lado, caso contrário não paga a comissão. “Eu não sou uma violeta murcha”, justificou ela ao jornal Daily Telegraph. Cada um tem suas prioridades para a grande noite. O americano Phil Jost só quer saber de cachorro. Ele desenvolveu um CD para acostumar os bichos ao barulho dos fogos de artifício. O disco começa com uma música suave no ritmo do coração do cachorro e vai crescendo com a inclusão de outros sons até que centenas de fogos começam a pipocar na faixa musical. Ele diz que, se passar um mês escutando o CD, o totó vai estar pronto para entrar no Ano-Novo com pata direita.

O novo milênio, graças a Deus, inspirou idéias mais interessantes do que ficar tocando música para cachorro. Uma proposta surgida no Canadá, que a princípio poderia ser considerada mirabolante, acabou por se mostrar uma grande sacada. Uma empresa chamada Smashing Conceptions! lançou em maio uma página na Internet convidando fotógrafos profissionais e amadores a clicar o Réveillon em várias partes do mundo e enviar as fotos para a composição de um livro. O projeto, intitulado Millennium Photo, já conseguiu mais de cinco mil voluntários, entre eles o ator americano Dennis Hopper. “Nós imaginávamos que o projeto fosse chamar alguma atenção, mas nem sonhávamos que fosse fazer este sucesso”, diz Alex Klive, dono da idéia. Um júri vai selecionar as 300 fotos que vão integrar o livro 2000 – como o mundo celebrou o milênio. O endereço do site é www.millenniumphoto.com e, até a semana passada, ainda havia vagas para voluntários no Brasil.

Pinguim na mala – Mas não é preciso ser fotógrafo para inovar. A cantora carioca Daniele Daumerie, 31 anos, cansou de passar o Réveillon em Nova York ou em festas do balacobaco no Rio. Para a virada do milênio, quer algo mais frio. Resolveu estourar champanhe ao lado de pinguins numa superfesta black-tie na Patagônia. Daniele e o marido, o psiquiatra Leonardo Gama Filho, 32 anos, embarcam no dia 16 de dezembro em um avião para Santiago, Chile, e de lá seguem num cruzeiro pela Terra do Fogo. Pelo pacote, o casal desembolsou em torno de US$ 6 mil. “Como não vou assistir em minha vida a outra virada de milênio, esta tinha de ser especialíssima. Vou beber bastante champanhe e dançar como se fosse Carnaval. Imagina, ainda vou ver pinguim! Vou tentar colocar um deles na mala!”, brinca Daniele. “Queríamos fazer alguma coisa diferente. Estou cansado de ir para a Europa”, diz Leonardo.

Se uns preferem o traje a rigor, outros querem o oposto. Para um grupo de naturistas gaúchos, a comemoração é com todo mundo nu. A Federação Brasileira de Naturismo está organizando uma festa bem caliente, que promete reunir um público de cerca de 500 pessoas à beira do lago de Colina do Sul, um distrito de Taquara, a 60 quilômetros de Porto Alegre. Até os dançarinos que subirão ao palco improvisado para dançar um balé moderno vão ficar pelados. Para evitar que a situação fuja ao controle, o presidente da federação, Celso Rossi, já tratou de impor limites aos convidados. Na hora do baile, que acontece depois do balé, só dança juntinho quem estiver vestido. “Dançar junto pelado pode ser constrangedor”, observa Rossi.

Penetra na festa – O Réveillon da advogada paulista Marianne Fukushima, 25 anos, e de seu marido, Fábio, não vai ter música, dança, nem champanhe. Mesmo assim, vai ser uma festa. Grávida do primeiro filho, o parto está previsto para acontecer na passagem do ano. “Foi coincidência”, conta a futura mamãe. “Mas estou achando legal. O Ano-Novo traz uma idéia de renovação.” O obstetra de Marianne, dr. Eduardo Tomioka, está satisfeitíssimo com a perspectiva de passar o Ano-Novo no hospital, fazendo um parto. “Eu jamais viajaria nessa época, por causa da confusão. Este ano, as pessoas na rua vão estar muito eufóricas e alcoolizadas”, prevê Tomioka, que passou três dos últimos cinco Réveillons na sala de parto. Sua única preocupação é com a possibilidade de queda de energia, devido ao bug do milênio. “Mas nenhum bebê vai deixar de nascer por causa disso, podemos fazer tudo no escuro”, enfatiza. Onde quer que se esteja, este Réveillon promete ser especial.

HORA DE DECISÃO

Apesar de os locais mais badalados, como o Copacabana Palace, no Rio, e a Praia do Forte, na Bahia, estarem com reservas esgotadas, a loucura na procura por passagens e hotéis não aconteceu como o previsto no início do ano. Um exemplo: em julho, a seção carioca da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-RJ) acreditava que depois de agosto seria impossível conseguir um quarto na praia de Copacabana, onde acontece a maior queima de fogos do País. O mês acabou e só 43% dos quartos estão com reservas confirmadas. Descontando a parte bloqueada por agências de turismo, um terço dos leitos ainda está vago. “O número de reservas confirmadas até este mês está maior do que em outros anos, mas abaixo do que esperávamos”, afirma o presidente da ABIH-RJ, Álvaro Bezerra de Mello. Em Salvador, outro destino tradicional, o índice de reservas já pagas está na casa de 50%. Nas companhias aéreas nacionais as datas para fazer reservas na classe econômica estão ficando mais limitadas, mas até a semana passada as empresas informavam ter passagens disponíveis para todos os seus destinos no final do ano. E, ao menos por enquanto, não há previsão de vôos extras.

Um dos motivos para o baixo número de reservas pode ser o preço cobrado pelos hotéis, que anda nas nuvens. Em Copacabana, um pacote de cinco dias num hotel de frente para a praia sai, em média, R$ 6,5 mil. A assistente de vendas paulista Marli Monroy, mãe de Gabriel, de três anos, mudou seus planos e vai passar o Ano-Novo na casa dos pais em Pirituba, em São Paulo. Ela pretendia ir para a Pousada do Rio Quente, um resort a 187 quilômetros de Goiânia. Só que o preço da estada de uma semana subiu de R$ 1.297 para R$ 4.232 na época do Réveillon. Este valor é por pessoa em quarto duplo. Marli teria de pagar ainda mais. Para ficar num quarto só com o filho, a tarifa sairia R$ 5.440 para ela e R$ 300 para Gabriel. “Desse jeito, só se eu fizesse uma maria-chiquinha e passasse por criança”, brinca. Um funcionário da pousada informou que, normalmente, todos os pacotes já estão fechados nesta época do ano. “Mas, devido ao aumento dos preços, até agora só 40% dos quartos foram vendidos”, disse. Não é para menos.

Mesmo assim, quem pretende viajar não deve deixar as reservas para a última hora. O movimento nas agências de viagem está se intensificando. “A procura, graças a Deus, melhorou muito nos últimos dias. As pessoas estão esquecendo as férias de julho e começando a pensar no Ano-Novo”, diz Helenice Lourenço, da agência de viagens Agaxtur. Com diminuição das opções de passagem e hotel, quanto mais perto do Ano-Novo mais difícil vai ser reservar a viagem ideal. “Às vezes é mais fácil procurar operadoras que tenham pacotes prontos, com transporte e hospedagem inclusos”, recomenda Maria Elvira, da agência paulista Excalitur.