No pior estilo morde-assopra, em três discursos de improviso na última semana, o presidente Fernando Henrique resolveu ensinar como não se deve fazer política exclusivamente guiado pela biruta da mídia e das pesquisas de opinião. Irritado com a divulgação da pesquisa CNT-Vox-Populi, na segunda-feira 13, que lhe garante o recorde de rejeição na história recente do País, o presidente criou um factóide para tomar as manchetes. No mesmo dia, soltou um torpedo contra o Congresso, acusando-o de empurrar com a barriga a votação das reformas. Na terça-feira, diante de uma platéia de parlamentares, resolveu pedir desculpas. No dia seguinte, ao ver sua foto nos jornais, cabisbaixo ao lado do presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), este sim de peito erguido, FHC voltou atrás e bateu novamente no Congresso desmentindo o pedido desculpas. "O presidente está cansado e muito irritado. É difícil para alguém que conviveu com a glória por tanto tempo ver sua popularidade na lona", comenta um amigo. As reações destemperadas pegaram de surpresa até o secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira, que vinha num esforço concentrado de reconstrução da autoridade presidencial para destravar a pauta de votações da Câmara.

 

Centro do poderAloysio ainda conseguiu uma vitória suada, derrotando na quarta-feira 15 o projeto de perdão das dívidas dos ruralistas na Câmara. Mas agora não sabe como lidar com uma encrenca muito maior, que ameaça paralisar a base governista. É que, com o enfraquecimento do presidente, o Congresso tende a tornar-se o centro do poder. E os dois maiores caciques do Parlamento resolveram que chegou a hora de definir quem ficará com o trono.

 

Disposto a impor um limite ao todo-poderoso ACM, o presidente do PMDB, Jader Barbalho (PA), conseguiu que o presidente da Comissão Mista de Orçamento, senador Gilberto Mestrinho (PMDB-AM), o nomeasse relator do PPA, rejeitando a indicação de ACM, o deputado Eliseu Rezende (PFL-MG). "ACM perdeu o freio. Acha que o Congresso é ele, e que os senadores são seus funcionários. A Bahia e o Fernando Henrique acostumaram muito mal o senador ", atacou Jader na coluna da jornalista Dora Kramer, no Jornal do Brasil.

 

Como relator, Jader já estabeleceu até um cronograma para a discussão do PPA. A essa altura, o senador baiano nem faz mais questão do cargo para o PFL. O seu único objetivo é derrotar o inimigo. Antes da nomeação de Jader, chegou a ameaçar Mestrinho: "Duvido que ele tenha coragem de me enfrentar." Com sua autoridade posta em xeque, correu atrás do apoio do colégio de líderes e ameaça destituir Mestrinho para tirar Jader do seu caminho. Agora, além da base desorganizada, o calendário de votações está ameaçado. Tomar partido nessa disputa pode ser muito arriscado para o governo. Refém da briga, só resta ao presidente torcer que a economia cresça e lhe devolva a popularidade perdida.