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O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez um longo discurso, com frequência interrompido por aplausos, durante a cerimônia religiosa oficial de despedida Nelson Mandela em um estádio em Johanesburgo, nesta terça-feira. Obama, que se encontrou com Mandela uma única vez, em 2005, lembrou a trajetória do falecido líder sul-africano e saudou a sua importância para o mundo.

"É uma honra singular estar aqui hoje para celebrar uma vida como nenhuma outra", disse Obama, que foi ovacionado ao ser chamado para discursar no FNB Stadium. "África do Sul, pessoas de todas as raças, o mundo agradece a vocês por compartilhar Nelson Mandela. A luta dele foi a nossa luta. O seu triunfo foi o nosso triunfo".

Lembrando a história de Mandela e da África do Sul, Obama afirmou que "Madiba emergiu como o último grande libertador do século XX". Ele também comparou Mandela a grandes líderes mundiais e americanos como o Gandhi, Martin Luther King e Abraham Lincoln. "Ele liderou um movimento de resistência, como Gandhi, que não tinha grandes perspectivas no início", diz Obama.

Obama, que assim como Mandela foi o primeiro presidente negro de seu país, lembrou Mandela como um ícone moral e que suas ações e ideias foram exemplos para o mundo todo. "Mandela disciplinou sua raiva e a canalizou em ações. Ele aceitou as consequências de suas ações", disse Obama. "Mandela entendeu que as ideias não podem ser contidas por muros de prisões.

Ele também saudou o papel de Mandela na reconciliação entre brancos e negros sul-africanos após o fim do apartheid e ao assumir a presidência do país, em 1994. "Há uma palavra na África do Sul – Ubuntu – que descreve seu grande presente: seu reconhecimento de que todos nós estamos ligados de um jeito que é invísivel aos olhos", disse Obama, recebendo prontamente uma grande ovação do público.

"Foi necessário um homem como Madiba para libertar não apenas o prisioneiro, mas o carcereiro também", afirmou.

Obama também disse que é tentador lembrar Mandela como um ícone, mas que o próprio Madiba resistia a tal retrato sem-vida. "Ele não era um homem feito de mármore, era um homem de carne e osso", disse. "Nós nunca veremos alguém como Nelson Mandela novamente"

Obama contou que aprendeu sobre a luta de Mandela há 30 anos, quando ainda era um estudante, e que o exemplo do sul-africano influenciou sua caminhada e o levou e ao posto que ocupa agora. "Que alma magnífica ele era. Nós vamos sentir sua falta profundamente", disse Obama, ao encerrar seu discurso. Ele foi aplaudido de pé. 

Antes de seu discurso, Obama surpreendemente cumprimentou o presidente de Cuba, Raúl Castro, com o qual não mantém relações oficiais. Ele também cumprimentou carinhosamente a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, que recentemente cancelou uma viagem aos Estados Unidos devido ao escândalo de espionagem.

Homenagens a Mandela reunem o maior número de chefes de Estado da história

O tributo que prestado hoje (10) ao ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, que morreu na última quinta-feira (5), reune o maior número de chefes de Estado da história. O recorde atual foi registrado no funeral do papa João Paulo II, em 2005, com a presença das autoridades máximas de 70 países. De acordo com o governo da África do Sul, mais de 90 chefes de Estado confirmaram presença.

A homenagem teve início às 11h (7h no horário de Brasília), no Estádio Soccer City, palco da final da Copa do Mundo de 2010 e também, no mesmo dia, da última aparição pública de Mandela, desfilando em um carrinho de golfe e aplaudido por milhares de admiradores. O estádio tem capacidade para cerca de 80 mil pessoas.

Mas Madiba, apelido que remete ao clã daquele que é considerado o mais importante filho da África do Sul, não movimenta apenas dezenas de chefes de Estado e os milhões de sul-africanos que o têm como pai. Os aeroportos de Joanesburgo ficaram lotados nos últimos dias desde a morte de Mandela. Pessoas de todas as parte do mundo chegam para se despedir e prestar homenagem ao líder.

O voo de domingo (8) de São Paulo para Joanesburgo ficou totalmente lotado, e as últimas passagens foram vendidas por mais de três vezes o preço mais barato sem promoção. A imprensa de todo o mundo também veio registrar o momento histórico. No local que o governo destinou ao credenciamento para a cobertura do funeral de Mandela, os jornalistas levaram, em média, cinco horas, no domingo e na segunda-feira, para conseguir uma credencial e ter acesso aos eventos.

O motorista Neggie, que trabalha para uma empresa que transporta pessoas em Joanesburgo, disse que a cidade não “lotou” nos últimos dias. “Está mais do que lotada”, acrescentou. O clima na cidade mistura tristeza pela partida de Madiba e celebração de sua vida. As imagens das bandeiras a meio-mastro em todo o país se misturam com danças e cantorias em homenagem ao ex-presidente que, em vida, despertou a curiosidade e a admiração de pessoas e líderes de todo o mundo e agora os atrai ao país para a despedida.