O ministro da Justiça, José Carlos Dias, teve seu passaporte para o governo federal carimbado no Palácio dos Bandeirantes. No cargo, não decepcionou seu padrinho político, o governador Mário Covas. Transferiu para os Estados A inspeção de veículos, uma nova exigência do Código Nacional de Trânsito que deverá render ao governo paulista mais R$ 1 bilhão por ano. "Estou afastando isso de mim", diz o ministro a ISTOÉ, que se disse pressionado por "grandes interesses".

ISTOÉ – Por que o sr. transferiu a inspeção de veículos para os Estados se o governo federal continua precisando de dinheiro?
José Carlos Dias
A opção foi a mais acertada. Eu não quis fechar nas minhas mãos a responsabilidade de dirigir aqui de Brasília a inspeção em todo o brasil, que envolve R$ 1,5 bilhão e grandes interesses. Eu não quero grandes empresas e multinacionais.

 

ISTOÉ – Como isso funciona em outros países?
Dias – Não sou um especialista. Essa foi a idéia que surgiu para não deixar esse assunto aqui, pelos riscos. Havia grande interesse em que isso permanecesse
aqui.

ISTOÉ Interesses de que tipo?
Dias – Muitos interesses, muita gente brigando. É difícil administrar isso daqui. Então, foi escolhido Jurandir Fernandes como diretor do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), um homem de muita competência e de quem eu tenho as melhores informações como diretor da Dersa (estatal rodoviária paulista). Eu o conheci por Indicações de várias pessoas.

ISTOÉ – O sr. responde por ele?
Dias – Eu respondo por ele. Ele era um homem da absoluta confiança do Franco Montoro, como eu. Acho que nós todos merecemos mais crédito do que outras figuras que apitam na política.

ISTOÉ – O sr. está falando de quem?
Dias – Não sei…

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

ISTOÉ – O sr. está falando do senador Renan Calheiros (PMDB-AL)?
Dias – Eu fui extremamente elegante com ele… (desiste de falar)

ISTOÉ – O sr. foi pressionado pelo governador Covas para transferir a inspeção de veículos para os Estados?
Dias – Nunca fui pressionado por ninguém. Nem pelo presidente da República, que não pressiona, manda. Sempre fui favorável a delegar, porque sou contra segurar todo esse poder na mão.

ISTOÉ – O governador Covas nunca falou com o sr. sobre essa questão?
Dias – Jamais. Eu é que disse a ele que ia propor isso, assim a gente evita os grandes interesses que já estavam rondando aqui.

ISTOÉ – Quem é que estava rondando?
Dias – Não seria ético da minha parte dizer. Mas estou afastando isso de mim.

ISTOÉ – também há gente rondando nos Estados.
Dias – Pode ser. Mas isso não significa que seja desonesto.

ISTOÉ – Uma última questão: as licitações para construção de penitenciárias foram suspensas?
Dias – Foram revogadas porque sou contra esses orçamentos muito altos. Era algo como R$ 800 milhões. É possível fazer tudo mais econômico e simples com os Estados construindo.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias