02/05/2008 - 10:00
OPINIÃO Guilherme e Kallu desdenham os emos. “Temos gostos bem diferentes. Acho o ‘estilinho’ deles meio brega”, diz ela
Nada de bandeiras políticas, grandes causas ou ideologias. O grande lance da nova tribo que chega à cena urbana, chamada de From UK, é o estilo. E o deles é para lá de extravagante: cabelão armado com mechas e listras, maquiagem carregada para realçar ainda mais a pele branca e os olhos pintados de negro, piercings, roupas descoladas, calça skinny (justa de alto a baixo), óculos retrô, tênis All Star branco, além de metalcore (mistura de heavy metal com o som hardcore) no iPod. O movimento tem sido chamado de evolução ou sofisticação dos emos, por conta da origem emocore (estilo hardcore com letras românticas) de muitos dos integrantes do grupo e das novas escolhas de moda mais refinadas. Cansados do preconceito e em busca de uma identidade original e menos popular, adolescentes entre 13 e 17 anos se jogam no novo conceito, vazio em conteúdo, mas cheio de style.
Os From UK curtem o estilo descolado da juventude do Reino Unido (United Kingdom, em inglês) que, por lá, é chamado de scene, explica o estudante de design de moda, de 19 anos, Sérgio Franceschini, de São Paulo, mais conhecido na internet como Sr. Orgastic. Navegando por sites de relacionamento como MySpace e Vampire Freaks (voltado para um público mais gótico e rock’n’roll), a garotada descobriu a tendência e batizou o movimento. Dono de sete perfis no site de relacionamento Orkut com mais de cinco mil pessoas, o rapaz admira o movimento, tanto nas referências musicais quanto nas de moda. “Além do gosto musical, tem de ter estilo”, avisa. “Mas cada um deve encontrar o seu.”
O Orkut é território de disputa: eles concorrem em número de recados, de piercings e alargadores de orelha. Os apelidos, em geral em inglês, também são uma característica da tribo. Reeh Underoath é codinome de Rebeca Guimarães, uma estudante paulista de 15 anos, ex-emo que curte bandas como Underoath (de onde tirou o nome que adotou), Funeral for a Friend, Bring me to the Horizon e Bullet for my Valentine. Rebeca é From UK de carteirinha: freqüenta baladas como a matinê Circuito Bubbaloo e a Galeria do Rock, em São Paulo, repica o cabelo em casa com navalha e adota o visual de “roqueira moderninha”. Ex-emo, ela reclama do preconceito contra quem segue estilos diferentes na cidade. “Já tive até de correr de skinheads na noitada”, diz.
ATITUDE Rebeca, ou Reeh Underoath, e a banda Envydust, a preferida dos From UK
Os amigos Caroliny Lopes e Guilherme Castro, de 16 anos, também chamam atenção por onde passam. Kallu, como Caroliny se rebatizou, não gosta da associação recorrente entre os dois grupos. “Temos gostos totalmente diferentes. Acho o ‘estilinho’ deles até meio brega”, dispara. Guilherme conta que o gosto UK veio da música: e é no estilo dos vocalistas de bandas hardcore que ele se inspira para se produzir. “Nos vestimos de forma provocante e extravagante; não me importo de chamar atenção.” Os dois elegeram a banda brasileira Envydust, que mistura metal e hardcore, como ideal para a galera UK. O vocalista Max Machado se diz surpreso e lisonjeado: “Acho que não nos enquadramos muito no visual: eu, por exemplo, tenho dreadlocks até a cintura. Mas fico feliz que eles se identifiquem com nosso som”.
Embora os From UK sejam roqueiros assumidos, DJ Bobby acha que eles guardam o gosto musical para curtir dentro de casa. “Na balada, tocamos de Britney Spears a MC Créu e a pista ferve. Eu definiria essa nova tribo como adolescentes que resolveram se destacar extravasando no visual, com as roupas estilosas e cabelos fora do comum”, diz. Comunidades avessas ao movimento também crescem na internet: “Não gosto de quem muda de estilo sempre que outro mais interessante e que está na moda aparece, resumindo, de quem não tem personalidade”, alfineta a goiana Mariana Milhomem, 14 anos, dona de uma delas. Apesar de o maior número de adeptos se concentrar em São Paulo, o movimento cresce em todo o Brasil. Nathan Henrique de Sousa, 16 anos, é um dos representantes From UK de Campo Belo, interior de Minas Gerais. De família evangélica, ele desistiu de freqüentar a igreja porque não conseguiu convencer as pessoas de que não iria para o inferno por conta da aparência extravagante. “Eu sempre fui diferente e gosto de manifestar isso em meu estilo. Não vou mudar até que uma nova moda diga tanto sobre meu jeito de ser.”
