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LIÇÃO DE PAZ
Em Ahmedabad, na Índia, estudantes de uma escola primária seguram velas e pagam tributo ao
homem que, bem longe delas, em outro continente, ensinou os valores da igualdade racial
e da luta pacífica por um ideal. Elas levarão essa mensagem pelo resto de suas vidas

A vida extraordinária de Nelson Mandela, o gigante moral que destruiu o apartheid na África do Sul, suscitou na semana passada um fenômeno digno de sua trajetória. Pouco tempo depois das 20h50 da quinta-feira 5, em Johannesburgo, horário declarado da morte de Mandela, vozes se ergueram no mundo inteiro. Quem, a não ser Madiba – nome tribal pelo qual é chamado pelos sul-africanos –, seria capaz de provocar pesar entre negros e brancos, ricos e pobres, jovens e velhos, reacionários e rebeldes, poderosos e cidadãos comuns? Quem, a não ser ele, poderia ser admirado por tanta gente? No amanhecer da sexta-feira 6, centenas de alunos de uma escola de Ahmedabad, na Índia, acenderam velas em homenagem ao líder. A linda imagem parece evocar o espírito pacífico de Mandela, um revolucionário que transformou seu país sem derramar uma única gota de sangue. No mesmo dia, moradores do Brooklyn, em Nova York, dirigiram-se ao restaurante Madiba e, de lá, lançaram balões brancos ao ar. Também na sexta-feira, os franceses penduraram um banner gigante, com o retrato de Mandela, em um prédio do governo, no coração de Paris. Reverências como essas se repetiram na Austrália, no Japão, na Alemanha, nas Ilhas Fiji, na Rússia, no México – no mundo inteiro.

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De Washington, o presidente americano Barack Obama prestou sua homenagem. “Eu não poderia imaginar a minha vida sem o exemplo que Nelson Mandela deu”, disse. “Ele já não nos pertence, pertence à história.” Vladimir Putin, presidente da Rússia, destacou o compromisso de Mandela “com os ideais de humanismo e justiça”. Na China, a comoção pela morte de Madiba, tratado como “velho amigo” da nação, dominou o noticiário da mídia estatal. Entre elogios à revolução chinesa, Mandela também dizia admirar o livro “A Arte da Guerra”, antigo tratado militar chinês. Do Vaticano, o papa Francisco elogiou o ex-presidente sul-africano, que foi criado na Igreja Metodista, por seu “empenho em promover a dignidade a todos os cidadãos da nação”. Na América do Sul, os tributos à memória de Madiba não foram menores. Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, decretou luto de três dias e lembrou de seu antecessor, Hugo Chávez, que morreu há nove meses. Em nota, a presidenta Dilma Rousseff classificou Mandela como “personalidade maior do século XX” e anunciou viagem à África do Sul na sexta-feira 13 para participar do funeral. Uma edição extra do “Diário Oficial” foi publicada na sexta-feira 6 para que o luto de sete dias passasse a valer imediatamente no Brasil. Madiba era mesmo um ícone global. As duas filhas mais novas do ex-presidente da África do Sul souberam que o pai tinha morrido durante a estreia do filme “Mandela: Long Walk to Freedom”, em Londres. Detalhe: na plateia estavam o príncipe William, neto da rainha Elizabeth II, e sua mulher, a duquesa Kate Middleton.

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PAI DA ÁFRICA
Mandela mudou o destino de milhões com sua resistência obstinada contra o regime de segregação

Apesar de a morte de Mandela ser esperada há pelo menos cinco meses, desde que adoeceu gravemente vítima de infecção pulmonar, os sul-africanos parecem ter entrado em uma espécie de catarse coletiva. Nas ruas de Johannesburgo, milhares de pessoas saíram em procissão. Em Soweto, onde Mandela viveu nos anos anteriores à sua prisão e onde se instalou depois de ganhar a liberdade, multidões dançaram ao ritmo de canções tradicionais africanas. O funeral de Mandela deve ser um dos mais longos e espetaculares de todos os tempos. O governo anunciou que as homenagens vão durar dez dias. Estima-se que mais de 50 chefes de Estado devam comparecer ao sepultamento. Nada mais justo para um ícone que mudou seu País – e o mundo – para sempre.

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fotos: Ben Curtis/ap; Carlo Allegri/REUTERS; Alastair Grant/ap; Charles Platiau/REUTERS; Ben Curtis/ap


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