Quando acelerar a sua Ferrari pelo mundo da Fórmula 1, no ano que vem, Rubens Barrichello também estará impulsionando os negócios de muitas empresas por aqui. A começar pela Fiat, montadora que pertence ao mesmo grupo da escuderia italiana e tem no Brasil sua maior operação fora da sede em Turim. As conversas decisivas para a contratação do piloto praticamente coincidiram com a mudança de comando na subsidiária brasileira da fábrica de automóveis, que já está começando a ser tocada por Gianni Coda, executivo indicado em julho para o lugar do ex-superintendente Giovanni Razelli. Tão logo foi anunciado o acerto com Barrichello, a imprensa italiana divulgou a versão de que, além de suas qualidades na pista, também pesaram na balança os negócios da Fiat. "Foi uma excelente escolha. Nós temos muito interesse no Brasil, mas não foi este o motivo de sua contratação. Certamente, porém, isso agradará muito aos torcedores brasileiros. Mas eu não interfiro nas escolhas da Ferrari, só aprovo a decisão. Esperamos que Barrichello se torne um novo Senna", apressou-se a declarar Gianni Agnelli, presidente de honra do conglomerado.

Pode ser que realmente apenas os critérios competitivos tenham influenciado a decisão da Ferrari, mas é certo que a escolha vai servir de combustível para a Fiat no Brasil. "É claro que acaba repercutindo positivamente na imagem da marca no País", reconhece Marco Antonio Lage, gerente de comunicação da Fiat Automóveis. "Ainda não há uma estratégia traçada, mas Barrichello pode ser uma ótima oportunidade de marketing no futuro." Embora sofra, como toda a indústria, com a retração do mercado brasileiro neste ano, a montadora mantém o segundo lugar em vendas, com 26% do total contra 30,3% da Volks. Mas graças às 74 mil unidades exportadas entre janeiro e agosto é a líder em produção, com a fabricação de 282 mil veículos (33,3% do total) frente aos 266 mil da Volks (31,4%). Nesta segunda-feira 13, a Fiat comemora seis milhões de carros produzidos em Betim.

Com rapidez e senso de oportunidade, a Shell tratou de elaborar um anúncio dando as boas-vindas a Barrichello, já que a empresa é a fornecedora oficial de combustíveis da Ferrari. "Queríamos apenas fazer uma manifestação pública de felicitação, mas a contratação é potencialmente muito interessante para a Shell", diz o gerente de marketing Américo Campos Silva. Quem também deve lucrar é a Rede Globo, que detém os direitos de transmissão da F-1. Já neste ano, a audiência subiu cerca de 30% em São Paulo e as cotas de publicidade, vendidas por R$ 12,5 milhões cada em 1999, devem saltar para mais de R$ 15 milhões na próxima temporada. O GP Brasil, marcado para 26 de março, ganhou também um brilho especial. "Ele já teve todos os 60 mil ingressos vendidos neste ano, logo só pode ganhar é em entusiasmo", despista Tamas Rohonyi, promotor da prova. Inclua-se neste entusiasmo um aumento considerável na procura por espaços publicitários em Interlagos. Até a própria importadora da Ferrari, que vende carros a partir de US$ 310 mil, fala em impacto nas vendas. "O cliente ficou mais empolgado, mas é difícil estimar o quanto poderemos crescer", afirma Francisco Longo, da Via Europa. De carro popular à delírio de consumo, o certo é que o efeito Rubinho vem aí.