Quando se fala em melhorar a educação no Brasil, a chave do sucesso parece sempre se concentrar na obtenção de mais verba. O País vem aumentando gradativamente os investimentos no setor – passou de 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2000 para 6,1% em 2011, último dado disponível. Pelo Plano Nacional de Educação (PNE), esse percentual deve chegar a 10% em 2020. Há três meses, o Congresso Nacional aprovou com estardalhaço o repasse de 75% do dinheiro do pré-sal para a área educacional. É claro que recursos são muito importantes, mas, para o País dar o salto qualitativo de que precisa, é necessário avançar também em outras áreas. Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (o Pisa, na sigla em inglês), de 2012, divulgados na semana passada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ilustram isso.

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EXEMPLO
Acima, a Escola Professor Renato José da Costa Pacheco, no Espírito Santo,
que capacita professores. Abaixo, colégio chinês: os asiáticos dominaram o Pisa

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O exame, realizado de três em três anos, mede o conhecimento de alunos de 15 anos em matemática, leitura e ciências. Nessa edição, o foco principal era matemática e a pontuação dos alunos brasileiros na matéria subiu 10% em relação a 2003, o maior crescimento de todos. O País ficou em segundo lugar no quesito inclusão de novos alunos – perde só para a Indonésia. Mas foi só isso a comemorar. Embora invista US$ 26.765 por aluno dos 6 aos 15 anos, o Brasil amarga a 57ª colocação entre as 65 nações participantes. Os asiáticos dominaram a prova. Salta aos olhos o caso do Vietnã, que gasta apenas US$ 6.969 por estudante e alcançou a 15ª posição (leia quadro). Os Estados Unidos, por exemplo, aplicam 115.961 per capita e estão em 29º lugar. Se não atacar problemas estruturais, o País continuará na lanterna.

Um ponto crucial é ter professores qualificados. “Daqui para a frente, o Brasil precisa atrair bons profissionais”, afirma Andreas Schleicher, diretor-adjunto da OCDE para Educação. “Pessoas talentosas devem estar em escolas com mais desafios para superar as diferenças sociais.” No topo do ranking, a província chinesa de Xangai segue à risca a proposta de colocar o foco na qualidade da docência. Com 20 milhões de habitantes, a localidade tem orçamento e planejamentos próprios e investe pesadamente em educação. “Mas a China como um todo também tem adotado políticas voltadas para o professor”, afirma Alexandre Uehara, coordenador do Grupo de Estudos sobre a Ásia do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP). Assim como Xangai, o gigante asiático adota uma política de forte supervisão dos métodos empregados em sala de aula.

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No Brasil, as dificuldades ainda são primárias. “O problema começa quando a escola procura profissionais em áreas específicas, como química e física. Há estabelecimentos educacionais que passam o ano inteiro sem professor para uma disciplina. Já vi colégios em que um docente de filosofia dava aula de física”, diz Cleuza Repulho, presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação. Outra questão urgente é a criação de um currículo nacional. “Com uma base comum, seria possível trabalhar de maneira mais precisa a formação dos professores na faculdade”, afirma Eduardo Deschamps, vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação. Além disso, um bom projeto tem de atravessar as sucessivas administrações e não ser engavetado pelo novo governante. “Países que apresentaram evolução, como Cingapura, tiveram essa postura”, diz Andrea Bergamaschi, do movimento Todos pela Educação.

Entre os Estados brasileiros, o melhor exemplo, segundo o Pisa, é o do Espírito Santo, que passou do 6º lugar em 2009 para o primeiro em 2012. “Cerca de 85% dos alunos são de escolas públicas, isso mostra que estamos avançando”, afirma Klinger Barbosa Alves, secretário de Educação do Estado. Segundo lugar no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) entre os colégios estaduais capixabas, a Escola Professor Renato José da Costa Pacheco, em Vitória, atribui a boa nota às sucessivas capacitações de professores. “Os docentes participam de cursos para melhorar o ensino de matemática e damos muito enfoque no envolvimento da família com a realidade escolar”, explica a diretora, Adélia Maria Dias Ramos. A hora é de se debruçar sobre bons exemplos, internos e externos. Caso o País não corra contra o tempo, levaremos 25 anos para atingir a nota mínima estabelecida pela OCDE.

Fotos: Gabriel Lordello / Ag. IstoÉ, © Chen Cheng/Xinhua/ZUMAPRESS.com


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