Um estudo canadense acendeu um alerta para corredores amadores que resolvem participar de maratonas. De acordo com o trabalho, realizado pela Universidade de Laval, adeptos de corrida que não têm o preparo adequado expõem-se ao risco de sofrer lesões cardíacas após as provas. Os problemas são reversíveis, mas os cientistas ressaltam que o resultado reforça a necessidade de uma preparação correta antes de se lançar ao desafio. A pesquisa foi publicada no “Canadian Journal of Cardiology”.

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PREPARO
Antes de participar das corridas, Sabino fez um treinamento para que seu
organismo se acostumasse gradativamente ao desgaste imposto pelas provas

Os cientistas acompanharam as condições de 20 participantes da Maratona de Quebec que não estavam acostumados a esse tipo de corrida. Eles tinham entre 18 e 60 anos. Testes após a prova mostraram que metade deles apresentou redução funcional nos ventrículos esquerdo e direito do coração. Alguns manifestavam inflamação, edema e redução do fluxo sanguíneo. Os achados inquietaram os pesquisadores. “Ficamos surpresos com os resultados, já que os corredores são considerados o segmento mais saudável da população”, explicou à ISTOÉ o cientista Eric Larose, coordenador do estudo. Após submeter os participantes a exames três meses depois da prova, os cientistas verificaram que as lesões haviam desaparecido.

As conclusões somam-se a outras evidências de risco cardíaco para corredores amadores em situações extenuantes. Sabe-se, por exemplo, que horas de corrida podem até provocar necrose em pequenas áreas do órgão. “Normalmente, há uma regeneração depois. A questão é saber se no período pós-maratona esses atletas despreparados estão mais sujeitos a um infarto. Mas seriam necessários outros estudos para se avaliar isso”, afirma o cardiologista Nelson Souza e Silva, do Instituto do Coração da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O cardiologista Daniel Kopiler, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, compara os efeitos sofridos pelo miocárdio aos danos causados em músculos do restante do corpo após exercícios extenuantes. No coração, eles podem levar de fato a uma morte súbita, principalmente se a pessoa tiver uma doença cardíaca ou uma má-formação genética. Até para os jovens há esse risco. “Além de uma preparação de longo prazo, qualquer candidato a maratonista precisa pelo menos fazer um eletrocardiograma”, adverte.

Essas recomendações são fundamentais, em especial nesses tempos em que correr – e participar de maratonas – virou moda. Estima-se que no Brasil esse público já chegue a um milhão de pessoas. “A chance de ocorrência de morte súbita nas maratonas é de uma em 100 mil. E 50% delas ocorrem nos dois últimos quilômetros”, afirma Gláucio Soares, especialista em reabilitação cardíaca.

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É possível reduzir os riscos de problemas seguindo algumas orientações. Além de uma avaliação clínica inicial, o futuro maratonista tem de seguir rigoroso planejamento, com treinos de três a cinco vezes por semana. Só quando for capaz de correr bem 32 quilômetros a pessoa pode enfrentar o desafio. “Muita gente me procura querendo saber se em dois ou três meses já pode participar da prova. Não oriento a isso”, conta Eduardo Netto, diretor técnico da rede de academias Bodytech.

O especialista aconselha a quem quer correr uma prova de 42 quilômetros a fazer um treinamento paulatino com o auxílio de um profissional de educação física. O advogado carioca José Alfredo Sabino já correu dez maratonas em diferentes países. “Mas antes fiz um programa de treino. Também procurei começar com a meia maratona para me preparar. Seguindo todas as recomendações, nunca tive qualquer problema durante ou depois das provas”, conta. 


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