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Dos estilistas brasileiros que fazem sucesso no Exterior, a carioca Anne Fontaine, 36 anos, foge à regra. Ela não ganhou fama por desfilar nas semanas de moda de Paris e Nova York, a exemplo de Alexandre Herchcovitch e Carlos Miele, nem foi contratada por uma grife já consolidada, como a Calvin Klein fez com Francisco Costa. Pouco conhecida de seus conterrâneos, Anne construiu um império no exigente mercado de moda parisiense com uma idéia simples: confeccionar camisas brancas.

Em 13 anos, ela contabiliza 70 lojas próprias espalhadas em dez países e tem faturamento anual estimado em 70 milhões de euros.

A bem-sucedida trajetória começou por causa de uma paixão. Depois de deixar o Rio de Janeiro aos 18 anos para morar numa tribo indígena na Amazônia, ela decidiu estudar biologia marinha na França, quando passava seis meses por ano em alto-mar. Em uma das temporadas em terra firme, em 1993, apaixonou- se pelo francês Ari Zlotkin, que a pediu em casamento com dois meses de namoro. “Aceitei e larguei os estudos.

Mas não gosto de ficar parada”, conta ela, que ajudou o marido a reerguer a decadente fábrica de camisa herdada da família. “Descobri que a minha sogra guardava no sótão camisas brancas vintage e contei a ele sobre a tradição no Brasil de usar essa cor no réveillon e no candomblé.” O marido gostou da idéia de apostar no branco e pediu que ela desenhasse novos modelos. “Gostava de criar roupas para mim, mas não profissionalmente”.

 

 

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A primeira coleção, com 30 modelos assinados por ela e vendidos por representantes, foi um sucesso. Mas os tempos ainda eram de vacas magras. “Contávamos dinheiro para o metrô”, lembra. O casal cansou de bater em porta de bancos até conseguir um empréstimo para abrir a primeira loja. Em 1994, inauguraram um espaço de 25 metros quadrados em Paris. No ano seguinte, começaram a exportar e surgiram franquias no Japão. O contrato de dez anos com os japoneses expirou e o casal decidiu ter apenas lojas próprias – hoje, espalhadas na Europa, Ásia, nos Estados Unidos e em Israel. O Brasil terá que esperar cinco anos para ganhar uma filial da grife. Mas algumas das cobiçadas camisas alvas, que conquistaram as atrizes Catherine Deneuve e Halle Berry, podem ser encontradas na multimarca Avec Nuance, no Rio. “Anne foi uma visionária. Camisa branca é um curinga no guarda-roupa de qualquer mulher, da despojada à mais sofisticada”, diz Silvia Chreem, dona da loja.

Apesar de ainda não ter fincado sua marca na terra natal, Anne não abandonou as raízes. Na loja conceito de 700 metros quadrados da luxuosa rua Saint- Honoré, ela inaugurará em setembro um spa com toques brasileiros. Vai oferecer banhos e massagens com velas e rosas brancas inspirados em Iemanjá às elegantes clientes, que desembolsam a partir de 200 euros por uma de suas camisas.