Na mitologia grega, Atenah é a deusa da sabedoria e, paradoxalmente, da guerra e da paz. Nas corridas de aventura, esporte múltiplo composto por caminhada, ciclismo, escalada e remo, Atenah também é sinônimo de força, garra e perseverança. A junção dessas virtudes produziu um feito histórico. A equipe que carrega o nome dessa divindade do Olimpo obteve o quarto lugar no Ecomotion Pró, a maior prova da modalidade da América Latina, disputada entre os dias 12 e 18 de novembro nas exuberantes e desafiadoras paisagens de 12 cidades do Rio de Janeiro. Eleonora Audrá, a Nora, Silvia Guimarães, a Shubi, Fernanda Maciel e Cris de Carvalho superaram os 558 quilômetros desse rali humano, ganharam a quarta colocação. À frente de 41 equipes brasileiras. O quarteto das superpoderosas só ficou atrás dos americanos do Team Sole, os vencedores da competição, dos neozelandeses da Merrell e dos espanhóis da Abarth.

Para que se entenda a façanha das “deusas” brasileiras, nunca na história do circuito mundial de aventura um time formado apenas por garotas concluiu uma prova nas cinco primeiras colocações. A atleta Cris Carvalho resumiu em poucas palavras o sentimento que tomou conta do quarteto. Ao subir ao pódio às 5h03 min da sexta-feira 17, 117 horas, 17 minutos e 50 segundos após o início do périplo, Cris gritou: “Os homens agora vão ter de se preocupar.” E a platéia masculina não contestou. Rafael Campos, um dos mais completos corredores de aventura do País, capitão da forte equipe Mitsubishi Quasar Lontra, analisou o desempenho das moças. “Elas mereceram. Adotaram uma estratégia e fizeram uma corrida bem planejada”, disse.

Foi por pouco, porém, que o Brasil não perdeu as suas mais charmosas representantes. A um mês da corrida, a equipe das meninas estava ainda sem patrocínio e precisava arrecadar R$ 10 mil para a inscrição e gastos com o time. Sem dinheiro, as cerca de seis horas de treinamento diário, composto por corrida, musculação, natação e pedal pareciam perdidas. Mas a empresa de telefonia que patrocina o evento, a Vivo, entrou no jogo e assumiu as despesas do quarteto. O restante ficou por conta de Nora, Shubi, Fernanda e Cris. “O segredo é que nós somos muito amigas. Enquanto outros sofrem, nós nos divertimos”, diz a capitã e musa do time, Shubi.

O êxito da Atenah pode inspirar a realização de um outro sonho. O Brasil, que já sedia etapas dos campeonatos de surfe e Fórmula 1, agora entra na disputa para ter a sua prova do circuito mundial de corridas de aventura. O Ecomotion Pró 2006 faz parte do calendário internacional, mas não está homologado como mundial. Para verificar se há viabilidade para uma possível corrida no País, o neozelandês Geoff Hunt, presidente da entidade que organiza a prova (AR World Series), acompanhou de perto a corrida. A julgar pela opinião do dirigente, é bom os aventureiros se prepararem para receber feras como o australiano Ian Adamson, do Team Nike. Ian é uma lenda viva do esporte. “Estou impressionado com as qualidades naturais e técnicas do Brasil. Tudo está encaminhado para que o mundial de 2008 aconteça”, disse. Como ninguém é de ferro, o neozelandês tomou caipirinha, sambou e mergulhou em Ilha Grande.

Hunt não foi o único a aprovar o Brasil como hóspede da prova. O espanhol Antônio de La Rosa da equipe Abarth, acostumado a disputar grandes desafios como o Eco Challenge e o Primal Quest, afirmou que a estrutura atual do Ecomotion já seria suficiente para que fosse oficializado como mundial. “Já disputei etapas do circuito menos organizadas. O Brasil está pronto para 2008”, afirma o touro miúra da aventura. Mas essas palavras não trazem tranqüilidade ao homem por trás do Ecomotion. Dono da empresa que organiza o evento, Said Aich Neto tem planos ambiciosos. Ele pretende levar a corrida, no Brasil, para dois lugares paradisíacos e distantes entre eles. Said quer fazer um evento grandioso. A idéia é que logo na abertura atletas saltem de pára-quedas. Mas, para essa grandiosidade esportiva acontecer, o empresário terá de arrecadar ao menos o dobro do R$ 1,5 milhão gasto na infra-estrutura da atual competição. Além da iniciativa privada, ele espera contar com ajuda governamental para viabilizar a corrida: “Essa prova seria uma fantástica vitrine para o turismo no Brasil. Imaginem quantos estrangeiros não viriam para cá por conta disso?!”, diz ele. Said conta que pretende procurar o ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, e a presidente da Embratur, Jeanine Pires, para expor seus planos. Como na aventura não há barreiras para o sonho. Said deve se mirar no exemplo das mulheres de Atenah (com a licença de Chico Buarque). Muitas mulheres que vivem no limite extremo do suor, da ação e da adrenalina.

Números da prova: R$ 1,5 milhão foi o custo, 54 equipes, 216 atletas
inscritos, 450 funcionários de apoio