As duas maiores editoras brasileiras de livros didáticos terão agora um sotaque francês. Na terça-feira 17, o grupo francês Havas e o conglomerado brasileiro Abril anunciaram a compra das editoras Ática e Scipione, donas de 35% do mercado de livros de ensino. A transação alcançou quase R$ 200 milhões. Inicialmente, os novos donos vão manter separadamente a estrutura das duas editoras, mantendo intactas as duas administrações, que pertenciam a famílias de professores. Trata-se da primeira investida no Brasil da companhia francesa, cujo controle pertence ao grupo Vivendi, com marcante presença na área de saneamento básico, telecomunicações e publicações na Europa. O grupo Havas entrou no mercado editorial brasileiro por uma das poucas portas que a legislação permite, que são a participação de capital estrangeiro em editoras de livros. Um dia depois, no entanto, uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou projeto que fixa em 30% o teto máximo para participações de capitais estrangeiros em empresas de rádio, televisão e jornais.

Dívidas – Com o negócio em parceria com a Havas, o grupo Abril retorna à edição de livros escolares, área em que já atuou entre 1970 e 1981. Assolado por um forte endividamento, que piorou com a desvalorização do real, o conglomerado foi obrigado a fazer um drástico programa de enxugamento. Vendeu recentemente suas participações na DirecTV e Listel, além de fechar operações menos rentáveis, como a distribuição de fitas de vídeos. "Com isso, o grupo recuperou a capacidade de investimentos", diz a diretora de relações corporativas, Junia Nogueira de Sá. Segundo ela, a dívida do grupo, que totalizava US$ 550 milhões, gira hoje em torno de US$ 100 milhões.