Até onde vai o fôlego das redes varejistas internacionais, que se digladiam por um mercado estimado em R$ 55 bilhões em 1999? Esta é a pergunta que martelou a cabeça de supermercadistas, distribuidores e fornecedores na semana passada. Na mesma segunda-feira em que anunciava na França a aquisição da rival Promodès, por US$ 16,8 bilhões, e criava a segunda maior rede do mundo (perdendo apenas para a americana Wall-Mart), o Carrefour reforçou no Brasil a sua liderança ao anunciar a compra das redes Rainha, Continental e Dallas. Todas no Rio de Janeiro. Com isso, a rede francesa soma 12 hipermercados e 32 supermercados no Estado e continua atrás do Sendas. Turbinado por uma injeção de R$ 1,5 bilhão, resultado da venda de 21% do capital para o francês Casino, seu grande rival, o Pão de Açúcar, também estuda novas compras. O Sonae, de capital português, que ocupa a terceira posição no ranking, com 44 unidades, domina o Sul do País. O que se conclui nisso tudo é que um número menor de empresas controla uma fatia cada vez maior do mercado. Há dois anos, as cinco principais redes de supermercados eram responsáveis por 27% das vendas totais do varejo. Em 1998, o índice subiu para 37%, e até o final do ano se estima que chegue a 40%. Para analistas e consultores, esse número deve estacionar nesse patamar. "Apesar de alguns países europeus apresentarem uma concentração altíssima, o Brasil, inclusive por suas dimensões, deve seguir o modelo americano, cujo nível de centralização está entre 40% e 45%", afirma o consultor Francisco Rojos.

Pode ser. Porém, mesmo que Jean Duboc, superintendente do Carrefour, afirme que a empresa agora se preocupa em adequar as lojas compradas aos padrões da rede, para só depois pensar em novas aquisições, o mercado dá como certos outros lances em breve. As redes mais visadas são Sé, do grupo português Jerónimo Martins, e Sendas, última empresa familiar do setor. O Sé é o terceiro grupo em São Paulo, com 41 lojas e faturamento previsto em R$ 770 milhões neste ano. No Rio, o Sendas reina absoluto, com 85 lojas e expectativa de movimentar R$ 2,1 bilhões em 1999. Além do desempenho das redes, pesa a importância do mercado em que atuam. "A disputa será pela liderança em cada Estado e não nacionalmente", opina Antonio Carlos Ascar, da Ascar & Associados. Ele ressalta que como São Paulo e Rio de Janeiro concentram as vendas no País – com 42,1% e 12,9%, respectivamente – é natural que o foco dos negócios esteja nessas regiões. A administração do Sé admite que está em situação delicada. "Não fomos procurados por nenhuma rede, mas é impossível ficar como estamos. Se não crescermos, perdemos espaço", diz Hugo Bethlem, diretor comercial. Por isso, o Sé já avisou que vai inaugurar oito lojas até dezembro e outras 20 no ano 2000. Está prensado pelos rivais e na corrida para não ser engolido.

FOME DE LOJAS Carrefour compra o rival Promodès na França e maistrês redes no Rio

ANDRÉ SARMENTO

Jogo de cintura para sobreviver

Na pequena Além Paraíba, cidade de 40 mil habitantes localizada em Minas Gerais, o Superlistão é referência quando o assunto é supermercado. Com 102 funcionários e faturamento médio mensal de R$ 800 mil, o Superlistão é a primeira loja com a marca IGA, sistema cooperado entre varejistas independentes, atacadistas e fornecedores que chegou ao Brasil há quatro anos, trazido dos Estados Unidos por um grupo de 13 atacadistas. Hoje, há 11 lojas licenciadas no País e outras 36 participarão em breve do sistema. Os varejistas recebem treinamento, consultoria e suporte logístico. Uma arma fundamental nesse mercado extremamente competitivo. "Podemos trabalhar com estoque mínimo", explica Marcelo Queiroz, gerente do Superlistão. Para os distribuidores, os pequenos supermercados são uma garantia de ter compradores fiéis em lugares distantes do País.

Outra iniciativa no ramo dos supermercados pequenos é o programa do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios (Sincovaga). O projeto liga eletronicamente 230 lojas da Grande São Paulo aos principais fornecedores, o que garante velocidade nas reposições de produtos e elimina a necessidade de grandes estoques. "Em média, quem participa dessa cadeia virtual possui entre quatro e nove caixas e fatura R$ 300 mil por mês. Como estão juntos nesse sistema, ganham força na redução de custos e conseguem uma receita anual de quase R$ 1 bilhão", lembra o coordenador Nelson Barrizzelli. Um dos participantes é o supermercado Portal, na zona norte de São Paulo. A proprietária Lúcia Mitiko Morita diz que seu faturamento cresceu entre 5% e 10% depois de entrar no sistema. "Além de aumentar meu capital de giro, recebi orientação para definir melhor o público-alvo e o mix de produtos." Há quem prefira seguir o modelo de fusões, como os supermercados Coutinho e Praia, do Espírito Santo. Eles operam juntos dez lojas desde agosto. "Foi a saída que encontramos para continuar competitivos", resume Maria de Lourdes Coutinho, coordenadora de marketing.