O desejo de humanizar a paisagem fria, malcuidada, poluída e, para muitos, opressora de grandes centros é a motivação da escritora goiana Lêda Selma, 49 anos. Ela idealizou o projeto Poesia em Doses que pretende conscientizar pichadores para que não sujem a cidade e, de quebra, democratizar o acesso à poesia. A idéia é encher os muros com versos e ilustrações. Em cinco pontos da cidade já se pode apreciar o trabalho de 29 escritores e três artistas plásticos do Estado. "A pessoa chega apressada, dá de cara com o muro. Pára, pensa e relaxa. Os muros viram painéis de cultura, divulgando a poesia e humanizando a cidade. Além disso, abrem espaço para novos talentos", diz a escritora, que vem conseguindo a adesão de empresários ao projeto. Quanto à ação de pichadores contumazes, que não resistem a uma parede bem pintada, ela tem tido boas surpresas. "Os pichadores têm sido sensíveis. Não danificaram nenhuma das obras", comemora Lêda.

Em São Paulo, também há promessa de nova paisagem. Meninos de rua, pequenos infratores e alunos da rede pública e particular de São Paulo estão dando novas cores à metrópole. Envolvidos pelo Projeto 100 Muros, jovens e crianças de várias instituições, entre elas a Febem e o Instituto Laramara (que atende crianças cegas), estão produzindo mosaicos de azulejos coloridos para cobrir uma centena de muros da cidade. O projeto, patrocinado pela Fiat Automóveis e pela Fundação BankBoston, é desenvolvido pela Escola da Rua, braço artístico do Projeto Aprendiz que trabalha a educação por meio da mídia. Autores da nova paisagem, as crianças deixam nos muros cinzas traços de suas próprias histórias. Nas oficinas de arte, comandadas pela artista plástica Flávia Del Pra, temas como a cidade, a música, a escola e a vida dessas crianças se convertem literalmente em novos horizontes. "Percebi que posso fazer muitas coisas", diz Fábio de Brito, 16 anos, interno da Febem. "Até a tensão do ambiente melhorou. A arte acalma e ocupa a nossa mente", completa. Odília Sharon de Oliveira, 14 anos, resgatada das ruas do centro pelo Projeto Travessia, também vibra. "Eles estão ajudando nós e nós ajudando eles. Eu me achei muito legal quando vi o serviço pronto", diz ela se referindo à Praça José Afonso de Almeida, na zona sul da cidade. "Essa praça era um lixo e agora está linda."