O estilista italiano Gai Mattiolo, 30 anos, não tem meias medidas. Ao contrário: over é o adjetivo mais apropriado para esse aristocrata, homossexual assumido, já classificado como o novo Gianni Versace. Seu último desfile de alta-costura, em julho, em plena Piazza Farnese, em Milão, trouxe de volta luxo e glamour. Ricamente bordados com microcristais svaroski, da Boêmia, os vestidos causaram demorados ohs na platéia de formação eclética, onde se viam jornalistas, políticos, embaixatrizes e antigas estrelas. Ursula Andress era uma que estava na primeira fila.

O brilho é o ingrediente básico de suas coleções. "A alta-costura foi muito importante na época das grandes divas. Quero recuperar todo o seu glamour, sem esquecer a modernidade. São peças que a mulher pode dobrar e levar na mala, para depois vestir, linda e chiquérrima", disse ele a IstoÉ. Embora dinâmica, sua moda ainda se destina a pouquíssimas mortais. Um vestido bordado com microcristais, em crepe georgette, pesa só 45 gramas, mas custa US$ 30 mil. O delicado trabalho artesanal, segundo ele, é o responsável pelo preço. Um blazer de mosaicos coloridos que levou quatro meses para ser feito custa US$ 40 mil.

Polêmico por ousar desfilar roupas cintilantes numa época marcada pelo básico, Gai colhe farpas e desafetos. Muitos o consideram brega. Ele não se importa. "Não é possível agradar todo mundo. Quero agradar às mulheres, deixá-las sensuais." Sua coleção prêt-à-porter, distribuída em dez lojas em todo o mundo, inclusive em São Paulo, segue a mesma receita: há jeans salpicados com pedrarias, enquanto camisetas em tons como rosa-choque ou turquesa mostram ricos bordados. Na loja paulistana dos Jardins, as clientes podem encomendar um vestido de alta-costura, com base nas fotos dos desfiles. As medidas são tiradas meticulosamente e passadas via Internet à equipe de Gai, que depois envia mensagens até o vestido estar semipronto e ser mandado para o Brasil para a prova final.

O showroom no histórico Palazzo Gallarati Scotti, em Milão, deixa clara a origem do estilista. O prédio restaurado do século XVIII tem um magnífico afresco de Tiepolo no teto e pinturas do século XVI nas paredes. Nas araras repletas, tons cítricos do verão. "Costumo comprar tecidos na Índia ou na China, mas também não abro mão das novidades tecnológicas. Amo bordados e Internet, a vanguarda e a relíquia." É deste mix instigante que sai a moda de Gai Mattiolo, o novo enfant terrible da passarela italiana.

 

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Made in Italy

Nos últimos 50 anos a moda italiana ganhou corpo e espírito com estilistas como Valentino, Versace e Giorgio Armani, e Milão tornou-se um foco de moda. Essa história estará presente a partir do dia 15 de setembro na Estação Julio Prestes, em São Paulo, no evento Cinquant’Anni di Moda Italiana, organizada pelo Instituto Italiano de Cultura em parceria com o Senac. Entre outras preciosidades, será exibida a sandália desenhada por Salvatore Ferragamo para sua amiga Eva Perón. Um desfile da coleção de primavera-verão, com 140 modelos de 34 estilistas, abrirá o evento.


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