Bate meia-noite e as rolhas explodem como fogos. Há tempos que o champanhe funcionava só como efeito sonoro em festa de réveillon. No Brasil, o consumo per capita chega a meia xícara de café por ano, o equivalente ao golinho do brinde da virada ou ao que acompanha a garfada do bolo de casamento. Mas neste ano, as indústrias nacionais têm previsões otimistas de que a xicarazinha vai transbordar. As três líderes de mercado estão dobrando a produção. Uma das razões está na chegada do ano 2000. Só que o novo milênio não responde por todas as expectativas dos fabricantes. O brasileiro tem comprado mais champanhe e lembrado da bebida para outras ocasiões. "Não se trata de um surto de consumo, mas de uma nova postura de consumo", afirma Rubens Sant’Anna, diretor de marketing da Georges Aubert. A prova é que desde o ano passado as vendas além de crescerem não se concentram só em dezembro, período das comemorações. "Enfim, descobriu-se que champanhe não é só bebida de festas", diz Angelo Salton, dono da Salton, hoje a número 1 do mercado, que vai pular de 300 para 600 mil garrafas sua produção de champanhe brut e demi-sec.

 

Espumante pereba – Foi um verdadeiro treino com bolhinhas até esse despertar. Da sidra para o espumante pereba e desse para o champanhe. A qualidade cooperou. É certo que nossos produtos, em vários casos, carecem de muita elaboração, mas são bem superiores aos que eram vendidos há dez anos. Além da evolução, a nova preferência, ainda que tardia, segue a tendência de outros países como Itália, Estados Unidos e Argentina que acabaram por adotar o champanhe em substituição a bebidas mais fortes. Há 20 anos, por exemplo, o aperitivo italiano era o vermute que progressivamente perdeu espaço para o proseco e depois para outros espumantes. Na Argentina, o impacto foi a guerra das Malvinas. O embargo nas importações de uísque, que vinha da Escócia, obrigou os portenhos a transformar o happy hour em um tilintar de taças. Os fabricantes trabalham para que a mudança no Brasil também seja efetiva, e não mais uma onda passageira. "Temos que democratizar o champanhe, sem banalizá-lo", acredita Dávide Márcovitch, diretor da Chandon do Brasil.

Na contramão de sua aura sofisticada, o champanhe adquiriu versatilidade. Por seu baixo teor alcoólico, não anestesia as papilas gustativas como o uísque ou o conhaque, o que permite acompanhar uma refeição inteira. Com as novas elaborações que estão no mercado, do doce e suave ao seco e encorpado, o champanhe deixou de ser par exclusivo do caviar e hoje acompanha do sushi à carne vermelha. "Ele vai bem com quase tudo", garante a banqueteira Neka Menna Barreto. Os enólogos da Georges Aubert, por exemplo, levaram sua nova linha que vai do rosé ao inusitado champanhe tinto para ser degustado numa galeteria, restaurantes tradicionais do Sul do País, especializados em frango grelhado. "Há um tipo que combina com polenta, outro com frango e outro com macarrão", garante Sant’Anna.

 

Sem taça – Até a taça pode ser dispensada. Desde que a modelo Naomi Campbell se refrescou com a garrafa de 1/4 de litro e um par de canudos preto e dourado – tudo para não borrar o batom –, sugar o champanhe virou moda na Europa. A idéia é incentivar esse hábito aqui. A Chandon investiu nessas embalagens para tornar o consumo mais rotineiro e atingir o público jovem. Os frequentadores de casas noturnas começam a provar a novidade. Para sua festa de aniversário com três mil convidados, na sexta-feira 3, o apresentador Luciano Huck encomendou bandejas com garrafinhas para oferecer aos convidados VIP. "Para nós é uma facilidade, mas o champanhe não pode ser confundido com refresco", alerta a banqueteira Neka, responsável pelo bufê.