Telefone celular, agenda eletrônica, filmadora, walkman, videogame, computador e televisão. Todos esses aparelhos trouxeram comodidade e diversão à humanidade, mas carregaram consigo um entrave social: os dejetos eletrônicos. Quem tem qualquer desses equipamentos já passou – ou vai passar – pelo dilema de não saber o que fazer com a bateria usada ou as pilhas gastas. Salvo os poucos brasileiros que vivem em cidades onde há coleta seletiva, os demais têm duas opções: guardar o material tóxico dentro de casa ou jogá-lo no lixo e torcer para não contaminar o meio ambiente. Lojas e fabricantes sempre se negaram a dar um destino à sucata eletrônica. Agora, finalmente, as autoridades ambientais movimentam-se para repassar o problema a quem o causou. Ou seja, à indústria de eletroeletrônicos.
 

Entra em vigor a partir de julho a resolução 257 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente. As normas atribuem às empresas a responsabilidade sobre o material tóxico que produzem. Além de informar nas embalagens se o produto pode ou não ser jogado no lixo comum, os fabricantes e importadores serão obrigados a instalar postos de coleta para reciclar o lixo ou confiná-lo em aterros especiais. As empresas que não seguirem as regras podem receber multa de até R$ 2 milhões.
 

Essa medida vai trazer refresco para a família da pediatra paulista Regina Célia de Menezes Succi. Mãe de sete filhos, Regina tem cinco celulares em casa – e oito baterias velhas. “Os revendedores não queriam recebê-las de volta. Diziam que não sabiam o que fazer com elas”, reclama. A médica reservou uma gaveta de seu quarto apenas para armazenar o lixo tecnológico. “As baterias ficarão lá até ter um jeito de me livrar delas”, diz Regina.

Tóxicos – O perigo de lançar esses produtos na cesta de lixo é grande. Chumbo, cádmio e mercúrio, metais presentes no interior de algumas pilhas e baterias, podem contaminar o solo, lagos e rios, chegando finalmente ao homem. Se ingeridos em grande quantidade, os elementos tóxicos podem causar males que vão da perda do olfato, da audição e da visão, até o enfraquecimento ósseo. “Os materiais não são biodegradáveis e, mesmo que tenham baixa quantidade de elementos tóxicos, podem fazer mal ao meio ambiente”, adverte o físico Délcio Rodrigues, diretor da entidade ambientalista Greenpeace. “A reciclagem é a melhor saída.”
 

A quantidade de elementos tóxicos permitida em cada produto já gerou polêmica entre governo e fabricantes, que produzem cerca de 900 milhões de pilhas ao ano. Por volta de 300 milhões delas são alcalinas, que não possuem metais pesados e podem ser descartadas no lixo doméstico. A indústria garante que as pilhas comuns também estão dentro do limite de toxicidade permitida. “Elas podem ser jogadas no lixo”, afirma Luiz Antonio Coelho, especialista em pilhas da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).
 

Não é o que diz o governo. “Vamos exigir provas de que as pilhas estão dentro do limite”, dispara a bióloga carioca Isabela Teixeira, diretora da Secretaria de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente. Isabela recomenda que a população guarde as pilhas e baterias para devolvê-las aos fabricantes a partir de julho. “O consumidor não pode guardar isso em casa. As pilhas podem vazar e contaminá-lo”, rebate Luiz Antonio Coelho.
 

Enquanto a lei não entra em vigor, as empresas se preparam. A Gradiente fechou parceria com os Correios. O consumidor tem de ir a uma agência e colocar as baterias de celular numa embalagem especial. A despesa de frete é paga pela empresa, que pretende enviar o entulho ao Exterior. Clientes da Motorola podem encaminhar as baterias a postos autorizados, que remetem os produtos para reciclagem em terras francesas. O plástico das baterias é reaproveitado em outros produtos, como cestos de lixo e bandejas. E os elementos tóxicos das pilhas servem para produzir corantes.