Aviso: essa reportagem foi feita sob medida para aqueles que NÃO foram convidados a trabalhar numa empresa de Internet NEM ficaram milionários com uma superidéia.com. Se você é um dos “excluídos”, não desanime. O que você vai ler aqui está longe de ser o caminho das pedras para se entrar nesse mundo novo. Não temos essa pretensão e, aliás, ninguém hoje se arrisca a ditar os rumos de um negócio tão embrionário. Podemos, sim, mostrar que tipo de profissionais a tal da Web procura. Quais são as características, o perfil e a formação que poderão levar ou não um headhunter (profissional especializado em procurar talentos nas empresas) a bater à sua porta. De quebra, quisemos poupá-lo de mais uma matéria sobre os milionários da Internet, dessas que fazem a gente terminar o texto com uma pontinha de angústia do tipo: “Por que não eu???”
O fato é que na Internet as oportunidades de emprego se multiplicam. A consultoria Andersen Consulting calcula que hoje existam 300 mil empregos ligados à Web no Brasil, e esse total deve alcançar 2,4 milhões em um ano e meio. Mas que não se esperem salários astronômicos. “Há casos nos Estados Unidos de empresas de Internet que pagam aos principais executivos até 80% menos dos salários das companhias tradicionais”, exemplifica o headhunter Marcelo Mariaca, da Mariaca & Associados, responsável pelo recrutamento de mais de 30 funcionários para a América Online no Brasil. Aqui, a situação não é muito diferente. “Cerca de 75% dos profissionais que buscam a Web estão deixando para trás salários mais altos”, diz Francisco Britto, consultor de Internet na Spencer Stuart, uma das maiores empresas de recrutamento do mundo.

Desafio – O que leva executivos a trocar a estrutura e solidez das grandes corporações por escritórios de menos de 100 metros quadrados, com uma dúzia de funcionários, é a possibilidade de polpudos ganhos futuros. Na lógica particular que movimenta a rede, ganha-se muito dinheiro quando a empresa abre seu capital (faz o IPO – Inicial Public Offering), e os funcionários assistem à multiplicação exponencial do valor da companhia. Por tabela, embolsam sua parte no latifúndio na forma de atraentes ações. A outra isca para fisgar essas pessoas é o desafio de construir novas empresas e ter mais autonomia. “Eu era um rebelde nas multinacionais. Isso aqui é a minha cara”, brinca Max Petrucci, que há dois meses trocou o cargo de gerente de Marketing da Johnson & Johnson pelo site Webmotors, especializado em veículos. A idéia de migrar para a rede começou a tomar forma em 1999, quando Petrucci morava nos Estados Unidos e trabalhava para a J&J. “Na primeira vez que vi um executivo deixando a empresa para embarcar na Internet, achei que o sujeito estava louco. Mas depois que vários optaram pelo mundo virtual comecei a pensar que não poderia estar todo mundo enganado”, explica. A seu favor, algumas características que contariam no mundo “real” e também são bem-vindas no mundo “virtual”: formação sólida (administração de empresas e pós na FGV), experiência em importantes corporações, inglês fluente. Mas isso não seria suficiente. “Hoje o profissional de Internet é 90% iniciativa e agilidade”, acredita.
 

A rapidez é tão importante quanto uma visão ampla do negócio. Quem está na Internet deve compreender todas as engrenagens que movimentam a rede. Foi essa capacidade que determinou a contratação de Pyr Marcondes, diretor-geral da Starmedia. Jornalista e publicitário, Pyr ocupava o cargo de diretor da editora Meio & Mensagem até o final de 1999, quando foi procurado pela empresa de headhunting Korn/Ferry. Sua contratação causou uma certa surpresa ao mercado. Afinal, o jornalista estava sendo chamado para ocupar um cargo de decisão num negócio milionário que aparentemente não tinha nada a ver com sua experiência anterior. Será? “Percebi que fui chamado porque, como editor que cobria marketing e negócios, tenho um conhecimento genérico de posicionamento de empresas no mercado. Além disso, eu era responsável pelas estratégias editoriais e de marketing do M&M; sabia o lado prático e teórico de um negócio”, explica.

Esporte radical – Há ainda outros requisitos necessários para quem quer trilhar o caminho da Web. “Quem está na Internet quebra paradigmas, assume riscos e é workaholics”, resume Britto, da Spencer Stuart. Aliás, longas jornadas – até 14 horas diárias – são comuns para esses profissionais. Primeiro, porque o próprio dinamismo da Internet não admite trégua no trabalho. Segundo, porque essas pessoas acabam plugadas o tempo todo e a linha que divide a vida profissional da pessoal é praticamente apagada. Na outra ponta, a dos “pecados” que podem barrar sua entrada na rede, estão o comodismo, o apego à hierarquia e a resistência a mudanças. Ou seja, empregos na Internet são para praticantes de esportes radicais, enquanto o tradicional mundo corporativo está mais para uma partida de tênis. No primeiro caso, o que movimenta o atleta é a adrenalina, o perigo. Quem quer segurança procura outras modalidades. Portanto, se você não é do tipo que gosta de correr riscos, lamento, mas a Web não é a sua praia.
 

A capacidade de se lançar a novidades é tão valorizada na hora da contratação que até mesmo empreitadas mal-sucedidas ganham um lado positivo. O caso de Leonardo Xavier, gerente de produto do site Submarino, é um exemplo. Quando foi entrevistado para o emprego, Xavier contou que no passado havia montado uma importadora de bebidas com amigos, mas com a maxidesvalorização, em janeiro de 1999, ele e os sócios perderam US$ 250 mil. O que Xavier não sabia é que ao contar a sua história para Marcelo Ballona, diretor de marketing do Submarino, acabou marcando pontos. “Ele não tem medo de errar e é isso o que eu quero”, diz Ballona.
Por todas essas exigências, a verdade é que sobram vagas no mercado. “É um desafio achar novos profissionais preparados”, afirma Maria Eugenia Galvão, sócia-diretora do Klick Educação, portal pioneiro em educação na Internet brasileira. Para se ter idéia do que isso significa, a empresa chegou a analisar três mil currículos até chegar aos 60 professores que hoje atuam online. O diretor de conteúdo do provedor gratuito iG, o jornalista Matinas Suzuki, engrossa o coro. “Como não existe praticamente mão-de-obra formada para Internet, o cenário é de procura e não de oferta e acaba-se recrutando pessoas em outras áreas”, explica. O próprio Matinas é um exemplo disso: trocou o cargo de diretor editorial-adjunto na Abril para assumir o iG em outubro do ano passado. Uma das recentes aquisições do executivo foi Alessandra Muller, modelo e colunista de moda, contratada como editora do Morango, site que exibe mulheres bonitas em poses para lá de sensuais. “Fui procurar o Matinas para pedir algumas dicas para um site de uma agência de modelos e acabamos fechando negócio”, afirma Alessandra. 
 
Até que ponto esse frisson não é uma onda passageira? O consultor Ricardo Rocco, da empresa de recrutamento Russel Reynolds, diz que há um pouco de “modismo” nesse apelo para a Internet. Com certeza, nessa nova corrida do ouro, muita gente ficará pelo caminho. De uma coisa, porém, ninguém discorda. Mesmo quem não estiver diretamente ligado à Internet será afetado pelas mudanças que a rede provoca. Algumas profissões correm o risco até de desaparecer. Os especialistas alertam, por exemplo, para o caso de vendedores, corretores (seguros ou imóveis) e agentes de viagens. O raciocínio é simples. Quem quiser um roteiro elaborado para suas férias vai continuar precisando de um agente de viagens, mas para comprar uma passagem aérea, por exemplo, poucos cliques bastam. Portanto, meu caro, qualquer que seja sua profissão, é bom seguir o conselho dos especialistas: não feche os olhos para o impacto que a tecnologia terá daqui para a frente. A carreira de quem tem resistência à tecnologia está com os dias contados.

A WEB ESTÁ NO SEU DNA?

Descubra se você tem o perfil de quem pode trabalhar na Internet. Responda às perguntas abaixo atribuindo a pontuação que melhor descreve você. Depois, é só somar o resultado:

1 ponto – raramente
2 pontos – algumas vezes
3 pontos – quase sempre
4 pontos – sempre

1) Sou do tipo curioso, que se interessa por tudo que é novo e diferente. Me pego lendo sobre assuntos novos.

2
) Muitas coisas que conheço hoje, aprendi por conta própria, sem treinamento formal. Quando quero ficar por dentro de um assunto, compro um livro e estudo sozinho.

3
) No trabalho ou em minha roda de amigos sou a pessoa que normalmente apresenta sugestões de onde ir ou o que fazer.

4
) Quando alguém me apresenta uma idéia, ouço com atenção, mas não resisto à tentação de “melhorar” a sugestão, e antes de a pessoa concluir, já emendo com um “e se…”

Resultado:
Menos de 39 pontos – Internet não é sua praia.

Entre 40 e 50
– Forte tendência para abraçar a Web.
Entre 51 e 60
– Você é o que as empresas de Internet estão procurando!

5) Adoro discutir idéias novas, mas normalmente gosto de estabelecer metas, e posso ser muito chato na cobrança dos resultados.

6
) Uma idéia não vale nada se não for posta em prática.

7
) Acho muito estimulante realizar um projeto com poucos recursos na mão.

8
) Chefias e regras rígidas me entediam.

9
) Não sou um perfeccionista. Prefiro fazer 80% certo hoje a 100% certo amanhã.

10
) Não dá para fazer tudo. Por isso estabeleço prioridades e até deixo de lado tarefas que julgo desnecessárias.

11
) Adoro surpresas.

12
) Quando alguém se depara com um problema imprevisto, não tem dúvida: é só me chamar. 13) Não ligo nem um pouco para status, carro da companhia, sala privativa e secretária particular.

14) Quando começo a fazer algo, não tenho hora para acabar.

15
) Adoro investir em ações.