Os yanomamis, macuxis, e kaiowás nem sabem, mas têm um defensor e tanto. À moda Amyr Klink, o alemão Rüdiger Nehberg atravessou o Atlântico sobre um tronco de árvore, em uma viagem solitária e perigosa. Foram dois meses no mar, saindo da Mauritânia, na África, para chegar a Fortaleza. Tudo para chamar a atenção sobre a situação dos índios do País. Nehberg, um padeiro aposentado de 64 anos, aproveitou o Carnaval para descansar e recuperar parte dos dez quilos que perdeu na viagem. Na quarta-feira, 8, desmontou sua árvore flutuante para embarcá-la em um caminhão. O barco-árvore será montado em frente ao Planalto, onde o alemão pretende protestar. Içadas, as duas velas brancas vão funcionar como faixas, onde se lê: “Quinhentos anos de Brasil, milhares de anos de culturas indígenas, milhões de anos de floresta Amazônica. É hora de agir. Proteja os povos indígenas, respeite seus direitos pela terra e preserve a floresta tropical.”
 

Na Alemanha, ele é conhecido como especialista em sobrevivência. Já percorreu o mundo de bicicleta, cruzou o Atlântico em um barco a pedal e depois numa jangada de bambu. Pelos yanomamis foi a Roma, a pé, falar com o papa. Como isso não bastou, viveu na floresta para conhecer a real situação desses índios.
 

Apesar da ajuda de equipamentos sofisticados a bordo, o risco da aventura de navegar num barco-árvore foi alto. Em dias de chuva forte, para evitar o naufrágio, o jeito era cortar as cordas das velas. Soltas, no entanto, elas são como açoites e podem até matar. Pelo corpo, ele mostra as marcas da luta que travou com as cordas, por quase uma semana, já perto da costa brasileira. Antes de iniciar a viagem, o navegador tomou precauções “para dar sorte”. Pôs no mastro do barco-árvore, uma bandeira do Brasil para comemorar os 500 anos. Na proa, uma pomba branca. E ao cortar a árvore, um pinheiro gigante vindo da Suíça (15 metros de altura), o navegador escolheu a hora certa, antes da primavera e da mudança da lua. “A madeira fica mais leve e não toma água.” Foram nove meses de trabalho e quem pagou a conta de US$ 50 mil foi o Greenpeace. Depois do protesto em Brasília, Nehberg vai pôr em prática a outra parte do plano Brasil 500 anos. Navegará até o Amapá para denunciar a situação dos índios waiãpi.