Marcha dos 100 mil, se não conseguiu preencher todos os espaços da Esplanada dos Ministérios, aquele pedaço de patrimônio da humanidade gerado na incensada prancheta de Oscar Niemeyer e com capacidade para abrigar boa parte do Exército Vermelho dos bons tempos, funcionou como um potente despertador na cabeceira de uma criança dorminhoca. Mais do que isso: a oposição, com seu protesto, arremessou uma corda para o fundo do poço, onde, em estado de agoniante letargia, permanecia há um bom tempo o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.

O presidente despertou. Começou a semana lépido e partiu para o contra-ataque. Em entrevista aos jornalistas Míriam Leitão e Franklin Martins, da Rede Globo, classificou a oposição de golpista por usar a palavra de ordem "Fora FHC" e emendou chamando o movimento de "Marcha dos sem rumo". Golpismo ou não, o contra-ataque do presidente, reforçado pelas defecções da Ordem dos Advogados do Brasil e da Associação Brasileira de Imprensa, surtiu efeito e a oposição registrou o golpe. Os motes da marcha foram se amenizando durante a semana e chegaram na quinta-feira 26 a Brasília em forma de estratégicas críticas à política econômica do governo e suas devastadoras consequências.

Os primeiros rescaldos do movimento são alentadores: FHC, com sua popularidade cada vez mais comprometida pelas pesquisas e agora também ameaçado pelas ruas, prepara um pacote de medidas em que inclui um plano para privilegiar as pequenas e médias empresas com financiamentos a juros civilizados, o que, se realmente acontecer, deve dar algum desafogo na praga do desemprego. Melhor será quando o pessoal do Planalto Central começar a se entender e as tão faladas reformas, a fiscal, a previdenciária e a política, forem finalmente votadas. Aí sim saberemos que a corda está sendo usada para abandonar o poço.