Autores de folhetins têm verdadeiro fascínio por heroínas gêmeas. Especialmente quando uma delas é santa e a outra o diabo em forma de gente. Só depende do autor o jeito mais cruel e dócil de descrevê-las. No caso da mexicana Ines Rodena, que assina A usurpadora, exibida desde junho pelo SBT, no horário das 20h, a dose de açúcar e de fel vem acrescida de humor involuntário. Tanto é que a novela virou cult entre a rapaziada, chegando a atingir a média de 22 pontos na medição do Ibope, num horário competitivo com o Jornal Nacional. O enredo de A usurpadora conta a rivalidade entre a santa Paulina e a megera Paola, ambas interpretadas pela atriz venezuelana Gabriela Spanic. Com o velhíssimo truque de terem sido separadas na infância, as irmãs nem desconfiam que são parentes. É assim que a má Paola – mulher do rico e todo bonzinho empresário Carlos Daniel Bracho (Fernando Colunga) –, querendo viver um romance clandestino, trama uma armadilha para obrigar a boa Paulina a assumir seu papel na mansão dos Bracho, razão pela qual a pobre coitada passa a ser conhecida como "usurpadora".

Claro que ela acaba se apaixonando por Carlos Daniel e, quando tudo parece se encaminhar para o final feliz, surge Paola para malevolamente recuperar seu posto. Não há diversão mais garantida para quem curte um programa trash, até mesmo sem som. Paulina, por exemplo, só se veste de cor-de-rosa e chora aos borbotões sem nunca borrar a maquiagem esculpida a quilos de rímel e panqueique. Para completar a lista de excentricidades, o papel da vovó Piedade, mãe do empresário, ficou a cargo da nonagenária Libertad Lamarque, antológica cantora argentina, que passa o tempo todo sentada. Pedro Almodóvar deve estar morrendo de inveja.