Aos 26 anos, Selton Mello é tão apaixonado pelo que faz que na velhice só consegue se ver atuando em cinema, televisão e, acima de tudo, teatro. O mineiro natural de Passos, que foi morar ainda criança em São Paulo, é um ator atípico da sua geração. Enquanto a maioria vive disputando o papel de galã da estação, ele se orgulha principalmente dos personagens pouco convencionais como o adolescente excepcional Emanuel, da novela global A indomada – atualmente em reprise vespertina –, ou o inveterado mentiroso Chicó, da microssérie O auto da Compadecida, coincidentemente aqueles que lhe renderam maiores elogios da crítica. No momento, Selton veste o enjeitado Abelardo, da novela da Rede Globo A força de um desejo, e comemora o sucesso de sua primeira produção teatral, O zelador, do inglês Harold Pinter, em cartaz no Teatro Glória, no Rio de Janeiro. Além de produzir o espetáculo, o ator brilha na pele de Mick, uma metralhadora verborrágica que tortura o zelador do título brincando de confundi-lo. "Não faço a peça para ganhar dinheiro, senão escolheria outro texto", afirma ele. "É porque acho importante que gente nova venha ao teatro e dê de cara com Pinter", explica ele, falando sempre tão rápido quanto seu personagem Mick.

Depois de encarnar um daqueles garotinhos precoces em novelas, ele descobriu o teatro que o devolveu aos folhetins, já adulto. "Fazer novela é um belo exercício. Temos que estar sempre nos cobrando, fugindo da acomodação. Eles te jogam lá, esperando que você faça apenas o básico", conta. Não é o caso dele. Tanto que foi o único ator televisivo que o diretor Luiz Fernando Carvalho cogitou de convidar para fazer o filme Lavoura arcaica, adaptação do livro de Raduan Nassar, com estréia prevista para o início do ano que vem. Carvalho queria apenas rostos desconhecidos no seu primeiro longa-metragem, mas não encontrou um ator com a presença poética que o personagem André exigia, mesmo após realizar testes com mais de dois mil candidatos em todo o Brasil. "Selton fez um trabalho brilhante. Na geração dos jovens atores, existem os bons, os ótimos e os verdadeiros artistas. Ele faz parte da última categoria, aliás em extinção", elogia Carvalho.

Na hora de escolher a turma com quem iria trabalhar no teatro, Selton também fez questão de fugir de rostos conhecidos. Chamou os paulistas Leonardo Medeiros e Marcos Oliveira. "Quero apostar em gente capaz. Tenho muitos amigos talentosos que não encontram espaço porque a beleza, infelizmente, está em primeiro plano", diz ele, emendando que não se acha bonito. "O problema da moçada da minha idade é se deslumbrar com sucesso e dinheiro rápidos. Na maioria das vezes, falta estrada." Muita estrada pavimentada, diga-se.


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