Agora é definitivo. Após protelar durante anos a criação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o governo finalmente bateu o martelo a favor da nova instituição na semana passada. Será o fim do Departamento de Aviação Civil (DAC) e sobretudo de uma política governamental que se baseou muitas vezes em socorros financeiros. Economistas do governo lembram que as dívidas nas companhias brasileiras ultrapassam US$ 3 bilhões, dos quais US$ 2 bilhões são da maior empresa, a Varig. Até outubro um grupo de especialistas vai definir a legislação da Anac. É certo que estabelecerão regras de transparência nas contas e de estímulos para fusões no setor. Isso porque as companhias brasileiras não foram capazes de se preparar para a concorrência com as gigantes americanas e européias, que se preparam inclusive para uma cooperação que tornará ainda mais penosa a concorrência para as sul-americanas que tentarem encará-las isoladamente.

A criação da Anac sempre foi defendida pelos economistas do governo, mas sofria resistências da área militar. Por isso, a nova instituição deverá estar ligada ao Ministério da Defesa. O DAC, segundo os economistas, tomou uma série de decisões precipitadas no passado. Como a autorização dada à Transbrasil, em 1994, para fazer a ligação Rio–Moscou, que acabou sendo objeto de chacota e recebeu o apelido de "vôo da vodca". Nunca saiu do papel. O mesmo ocorreu com o vôo da Varig para Pequim, que está fora dos planos da empresa há três anos. Os críticos do DAC reclamam também da falta de planejamento sobre a nova realidade da aviação internacional. As companhias européias atuam com privilégios assegurados pela União Européia, que devem se acentuar nos próximos anos. Já as americanas ocupam cada vez mais espaço no rendoso mercado Brasil–Estados Unidos. A mudança decidida pelo governo é bem recebida pelos empresários, ao menos publicamente. Até mesmo o presidente da Vasp, Wagner Canhedo, muito ligado ao DAC, aplaude a modificação: "Se o governo crê que a Anac pode substituir o DAC e modernizar suas estruturas, apoiamos e estamos prontos a colaborar." Afinal das contas, pode ser a salvação da lavoura.