O ex-banqueiro Alberto Salvatore Cacciola, 59 anos, anda rindo à toa. Do Supremo Tribunal Federal ao Banco Central, recentes decisões favoráveis ao ex-dono do Banco Marka ameaçam transformar em pizza o mais rumoroso escândalo financeiro do ano. Não foi por acaso que, no domingo 22, Cacciola exibia a fisionomia serena dos inocentes ao ser flagrado no concorrido desfile da top model Naomi Campbell, no BarraShopping, no Rio. Ao lado da bela mulher, Adriana Alves de Oliveira, ex-Miss Brasil, e diante de beldades e estrelas da sociedade carioca, Cacciola parecia já ter esquecido os dias nervosos em que ficou sob a ira da opinião pública. Acuada por decisões judiciais que limitaram seus poderes, a CPI dos Bancos chega ao fim exalando um forte cheiro de orégano. Os senadores devem encaminhar ao Ministério Público conclusões carentes de provas. O máximo que podem fazer é propor novas regras para o mercado financeiro. O Ministério Público, outro de seus algozes, acaba de ser surpreendido por uma decisão do Banco Central de não mais encaminhar documentos sobre as operações que jogaram Cacciola, junto com diretores do próprio BC, nas páginas policiais.

As vitórias seguidas estão sendo comemoradas pelo advogado de Cacciola, Antonio Carlos Almeida Castro. No último mês, duas liminares que tornavam indisponíveis os bens do seu cliente foram cassadas. O ex-banqueiro já saiu à cata de compradores para seu patrimônio. Ele colocou à venda seu helicóptero Bell 407, que apresenta defeito de fabricação. "Até nisso ele tem sorte. Acabaram de inventar um equipamento que resolve o problema", contou um amigo. Também está à venda a lancha de 25 pés, que fica ancorada na mansão do condomínio Mombaça, o mais chique de Angra dos Reis. A casa foi transferida para a ex-mulher Regina, 41 dias antes da instalação da CPI. Avaliada em R$ 2 milhões, ela fica num terreno de 43 mil metros quadrados. "Cacciola não tem liquidez", diz Almeida Castro. Nada que afete seu padrão de vida. Para ir, por exemplo, ao desfile com a mulher, Cacciola foi pilotando seu BMW preto.

A caixa-preta do BC vem sendo o maior obstáculo ao Ministério Público. Apesar de ainda acreditar que terá elementos para denunciar Cacciola, a procuradoria está preocupada com a postura que o banco passou a adotar. O procurador-geral substituto do BC, Maurício Dourado, vem alegando que os pedidos da procuradoria ferem o princípio do sigilo bancário e ainda quer a devolução dos documentos já encaminhados ao Ministério Público. "O BC não tem colaborado em nada e adotou a filosofia de que somos um corpo estranho", diz o procurador Arthur Gueiros. Há suspeitas de que uma recente decisão do Banco Central de transferir do Rio para Belo Horizonte grande parte do setor de fiscalização foi uma espécie de represália aos fiscais cariocas, que foram contrários à ajuda ao Marka. "É nítida a falta de vontade política para facilitar as investigações", denuncia outro procurador, Bruno Accioly.

Os cotistas do Marka também apontam o BC como o maior empecilho à luta pela reparação dos danos. "Não conseguimos materializar provas para processar Cacciola. O BC se recusa a divulgar dados de compra e venda de dólares em janeiro", denuncia o presidente da Associação dos Cotistas Lesados do Fundo Marka Nikko, Luiz Eduardo Fernandes. Sem este documento fica impossível provar que o ex-banqueiro comprou e vendeu dólares para ele mesmo, beneficiando o Marka. A dívida com os cotistas chega a R$ 60 milhões. "Cacciola deu um golpe no mercado e o BC quer dificultar as investigações", comenta Fernandes. Sem provas, o senador Saturnino Braga (PSB-RJ) vai pedir a ampliação do prazo para a conclusão da CPI. "A frustração é grande. Vamos pedir mais 30 dias para nos dedicar à sugestão de medidas que melhorem a fiscalização do mercado financeiro", consola-se.

 

Nada consta – Recentemente, Cacciola foi condenado em primeira instância, num processo iniciado há três anos e meio. Motivo: transferência de recursos do Marka para si próprio e parentes. Nem o Ministério Público acredita que a condenação será mantida em instâncias superiores, já que os valores em questão são pouco significativos. Do escândalo deste ano, nada resultou em processo judicial. Com o vento soprando a seu favor, Cacciola já faz planos para o futuro. Entre uma caminhada e outra no condomínio Golden Green, o mais luxuoso e seguro da Barra da Tijuca, Cacciola estuda o novo ganha-pão – as opções são investir em construção civil ou na importação de produtos de alta tecnologia. Afinal, ele pretende honrar a promessa de se afastar do mercado financeiro, feita de próprio punho num famoso bilhete ao ex-presidente do BC, Francisco Lopes.

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