A epidemia de doping no atletismo mundial chegou ao Brasil. Recordista sul-americana e medalha de ouro em Winnipeg no arremesso de disco, Elisângela Adriano acompanhou nervosa na segunda-feira 23, em Madri, a contraprova do exame que detectara durante a Universíade, em julho – um mês antes do Pan –, a presença de uma substância proibida em seu corpo. De novo, o resultado foi positivo: foi comprovada a existência de uma quantidade acima da permitida de nandrolona, versão artificial do hormônio masculino testosterona, usada para aumentar a massa muscular e, assim, ganhar força. O mesmo motivo que suspendeu recentemente das pistas duas estrelas internacionais, o britânico Lindford Christie, medalha de ouro nos 100 metros nas Olimpíadas de Barcelona, e a jamaicana Marlene Ottey, bicampeã mundial nos 200 metros. "Vou procurar justiça", disse Elisângela, uma atleta de 27 anos, considerada exemplar pelos seus companheiros de clube, a Funilense, de São Caetano do Sul. "Não duvido da análise, mas tenho certeza da inocência dela", defende o presidente do clube e da Federação Paulista, Sérgio Nogueira.

 

A defesa – Embora não haja nenhuma comprovação de que a nandrolona possa ser aplicada de outra maneira, se não via injeção, os técnicos e dirigentes brasileiros tentarão provar que a substância constava – sem aparecer na fórmula – de algum suplemento alimentar que Elisângela consumiu ou ainda teria sido produzida em seu organismo a partir de algum componente desses produtos. A nova onda de dopings através da nandrolona reforça esta suspeita. Afinal, trata-se de uma droga antiga e de fácil detecção hoje pelos laboratórios, o que torna estranho atletas experientes como Christie e Ottey, ambos com 39 anos, terem-na consumido em meio ao período mais importante da temporada de competições. A hipótese já começa a ser estudada pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF), que, no entanto, suspendeu todos temporariamente. O maior especialista brasileiro e membro da comissão médica do COI, Eduardo de Rose, vai fazer o estudo técnico do caso. Para tanto, recebeu da própria Elisângela todos os frascos de aminoácidos e creatina consumidos por ela nos últimos tempos. Se a argumentação não for aceita, a atleta perderá ainda a medalha do Pan, mesmo que também lá ela tenha sido submetida a um exame antidoping sem que nada fosse detectado. Com isso, além da tragédia pessoal de Elisângela, que corre o risco de ser barrada das provas oficiais por dois anos, o episódio derrubaria a delegação brasileira da quarta posição no Pan, em favor da Argentina, que também somou 25 medalhas de ouro.