A história de amor mais fotografada de 1998 levou menos de um ano para demonstrar como a fama e a vida a dois podem se tornar rivais ferozes, quando obrigados a dividir o mesmo tempo. Com declarações melancólicas porém firmes, a modelo, atriz e apresentadora Adriane Galisteu, 26 anos, e o publicitário Roberto Justus, 44, deram por concluído na semana passada um casamento de oito meses, celebrado em dezembro com paixão, festa e buquê de arruda. "Foi uma relação que esfriou pela ausência", disse Justus a ISTOÉ, na quarta-feira, em seu escritório na agência NewcommBates, onde há poucos meses comemorava ter achado a mulher de sua vida. "Nosso casamento virou uma sucessão de fins de semana solitários, de noites solitárias e de encontros onde era impossível conversar, de tantas interferências." As notícias sobre a crise conjugal viraram depressa boatos sobre namoros, um deles envolvendo a modelo e o nadador Fernando Scherer, o Xuxa. "Já falaram em seis nomes", ironiza Adriane. "Se eu não tinha tempo nem de ver meu marido, já imaginou namorados?" Mas ninguém tentou desmentir que o casamento estava no fim. "Não tinha nada a ver, nessa altura da vida, viver uma farsa", ela afirma. "Não somos o tipo de pessoa que arrasta um casamento fracassado", diz o publicitário. "É melhor assumir e acabar com a mesma limpidez do começo."

Na semana passada, ao desembarcar de um passeio de 15 dias na Europa com a mãe e um assistente, Adriane confirmou o desfecho. "O amor não morreu. O que acabou foi a possibilidade de vivermos juntos", explicou, numa tentativa de afagar o ex. Mas isso não significa nenhuma possibilidade de casamento em casas separadas. "Tentei de tudo para não colocar o ponto final e me cobrei muito por deixar o Roberto tão sozinho, mas não quero culpar o meu trabalho. Custei a chegar onde cheguei e o que conquistei me deixa feliz." Suas atividades incluem o programa semanal Quizz, da MTV, o dominical Torpedo jovem, na rádio Jovem Pan, quatro apresentações semanais da peça Deus lhe pague (até o final de setembro), visitas regulares à casa noturna Donna, que ela abriu há poucos meses em São Paulo, desfiles, eventos, sessões de fotos e reuniões de negócios para tratar dos produtos licenciados com sua griffe. "Estou muito triste", admitiu Adriane. "Tínhamos tudo para ser felizes, mas vivemos fases diferentes. O trabalho tem significados diferentes para o Roberto e para mim. Eu não posso nem pensar na hipótese de estar fora do circuito no sábado e no domingo, relaxando no sítio, como ele queria", lamentava ela, exausta, na terça-feira, depois de dezenas de entrevistas, uma tarde na feira de Moda Íntima, em São Paulo, onde promoveu as meias de sua griffe, e se preparando para se trancar num estúdio, na quarta-feira, para posar para uma capa de Vogue.

 

Corrosão – Instalada desde o começo da semana em seu antigo apartamento nos Jardins, em São Paulo, ela ainda não tinha conseguido trazer suas bagagens da cobertura recém-reformada que abrigou o casal nestes oito meses. Mas teve tempo suficiente para encarar algumas conclusões acabrunhantes da separação. A mais dura é que, paradoxalmente, ter um companheiro é um projeto complicado para uma das mulheres mais desejadas do Brasil. Mas era um projeto que estava nos seus horizontes até um ano atrás. Falta de tempo é uma das dificuldades. Mas a exposição que ela impõe a quem estiver a seu lado também tem uma ação corrosiva. "Hoje em dia eu tentaria preservar mais a vida pessoal; Adriane quis investir no contrário", descreve Roberto, bem treinado em seu breve casamento a expor todos os capítulos da vida conjugal, inclusive o último. "Ela está sempre vivendo a personagem Adriane Galisteu, mas eu me casei foi com a Dri e a Dri sumiu."

 

Intervalo amoroso

 

CAROLINA TREVISAN E ANGELA KLINKE

Não há natal, flores no Dia dos Namorados ou presentinho no Dia das Mães. A promotora de eventos Marina Klink não pode contar com a presença do marido nem na própria festa surpresa. "Parece brincadeira, mas planejei tudo no ano passado e fiquei com medo de ele não vir", lembra. Ela sabia onde estava amarrando seu barco quando se casou com o navegador Amyr Klink. Afinal, ninguém se une impunemente a um homem que fica um ano solitário em meio a geleiras. "Se ele disser que amanhã vai para a Sibéria, eu faço a mala dele. Eu não fui enganada nem quero mudá-lo", diz. Amyr nem sequer sabe a data do aniversário dela. Saiu de casa para uma expedição quando as filhas, Tamara e Laura, falavam "babai" e voltou quando elas já sabiam que ele era o "papai". Mas isso não a incomoda. E, contrariando todos os padrões, eles vencem a angústia da falta de tempo. "Eu também vivo ocupada. O importante é não ter expectativas com o outro. O imprevisto faz parte da nossa vida. Dá tão certo que já esperamos mais uma filha para janeiro", conta alegre Marina.

É difícil, mas possível, transformar as lacunas na agenda em uma história feliz. Enquanto a mulher ficava em casa com o chinelinho na mão, esperando o maridão, havia menos stress. Afinal, um dos lados abria mão da carreira pelo brilho do outro. Mas hoje nenhum dos pares vive à disposição, como antigamente. "Parece besta, mas é um sonho que eu tenho voltar àquela vidinha de jantar e depois ficar conversando e até poder brigar", reclama Hugo Bernardes, que cuida de um trabalho comunitário da PUC de São Paulo e sofre desde que a mulher, Sônia, mudou de emprego.

Saudade – É ele quem faz o almoço e leva os filhos à escola, enquanto Sônia está no escritório. "Sinto saudades. Queria mudar essa situação", diz ele. Como os papéis sociais de homens e mulheres se modificaram, as exigências pessoais também ficaram abaladas. E entrar nessa valsa sem errar o passo está cada vez mais difícil. "Nunca vi tanta insatisfação como nos últimos tempos. As pessoas trabalham muito, se estressam muito e se respeitam cada vez menos", analisa Madalena Ramos, terapeuta de casais há 30 anos.

Agendar o amor parece ser uma síndrome dos casais modernos. Até para quem busca um par. No Rio de Janeiro, três mil pessoas já recorreram à agência Lunch for two, especializada em marcar encontros na hora do almoço. "Queríamos criar oportunidade para profissionais muito ocupados se conhecerem", explica Ioná Schechter, dona da agência. Se essas pessoas só têm tempo para paquerar entre uma garfada e outra e, ainda assim, no meio do expediente, imagine quando juntam os trapinhos. Nos consultórios, a falta de tempo é uma queixa frequente. Os especialistas questionam até onde é causa ou consequência dos desencontros. "Pode ser só uma forma de mascarar outros problemas", analisa a terapeuta Isabel Morim. "Se nenhum dos dois pode abrir mão de algum compromisso, é porque não querem se encontrar", afirma. Impedir que um mundo canibalize o outro é um exercício diário de maturidade. Em especial porque ninguém planeja ficar longe do parceiro. O deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP) estava casado há oito anos e já tinha três filhos quando a diplomata Helena teve de se mudar para Buenos Aires. Transferida para trabalhar no setor cultural da embaixada brasileira na Argentina, ela chegou a cogitar de abandonar a carreira. Hoje, eles se vêem de três em três semanas. O impacto foi grande e demandou empenho para criar um novo modelo de convivência. "Nos falamos todos os dias ou via Internet ou via telefone. Aprendi a aproveitar intensamente todos os momentos juntos", diz.

Rotina maluca – Há receitas diferentes para viver o contratempo. Respeitar o próprio ritmo foi a solução encontrada pelo empresário e dono da casa de espetáculos Tom Brasil, Paulo Amorim. Em parte, sua rotina turbinada ajudou seu primeiro casamento de 20 anos a terminar. Por isso, ele foi em busca de alguém que tivesse horários tão malucos quanto os dele. Não há normalidade no dia-a-dia de seu relacionamento de dois anos com a cantora Jane Duboc. "O tempo que temos é da meia-noite às três da manhã", revela. Dormem até em quartos separados para um não atrapalhar o sono do outro pela manhã. "Se me casasse com uma mulher metódica, não daria certo."

A estratégia, acredita a terapeuta Madalena Ramos, é não confundir a busca pelo tempo com um jogo de poder. "Oprimidas no trabalho, as pessoas chegam em casa carentes, cobram atenção. Vira uma disputa de quem fez o que pelo outro." Foi dessa luta que a publicitária Cristina Carvalho Pinto, presidente da FullJazz, buscou fugir. Casada há sete anos com o administrador de empresas Luiz Antonio de Souza, eles trabalham juntos desde 1996. Para dar certo, seguem disciplinadamente a regra de não falar mais da agência assim que entram no carro para ir para casa. Fazem questão de almoçar juntos e não abrem mão do convívio com a família no fim do expediente. Depois que os três filhos se retiram chega a hora do casal. "É um tempo reduzido e eu gostaria de mudar isso. Mas não é tão doloroso. Dá para manter o equilíbrio e viver bem." Ufa!