O carioca Ricardo Gonzalez cursava o primeiro ano do ensino médio quando sofreu um acidente de carro e ficou tetraplégico. Por conta das incontáveis sessões de fisioterapia, ele permaneceu dois anos longe dos livros. Mas não demorou a fazer as pazes com seu destino. Tratou de se matricular em um supletivo, terminou o ensino médio e prestou vestibular para ciências biológicas na Universidade Federal Fluminense (UFF). “Ao mesmo tempo que buscava minha reabilitação física, eu precisava pensar na minha socialização”, diz ele.

O desejo de voltar à rotina só foi possível porque o curso de graduação que ele escolheu é oferecido na modalidade “a distância”. Esse tipo de ensino permite ao aluno estudar em casa, no horário em que preferir. O aprendizado é estimulado através de material didático específico, disponível em diferentes mídias. Há desde a boa e velha apostila impressa até DVD, CD-ROM e e-learning. Com a internet, o estudante participa de chats com os tutores, de simulações com os colegas e aprende por videoconferência. Só as provas e atividades específicas ocorrem nas salas de aula. “Se meu curso não fosse a distância, eu não estaria agora com o diploma porque tinha muita dificuldade de locomoção”, explica Gonzalez. Hoje, aos 26 anos, ele faz pósgraduação em análise de risco ambiental na Universidade de Campinas (Unicamp), na modalidade presencial.

LALO DE ALMEIDA/FOLHA IMAGEM

PRATICIDADE Em cursos como o de Helene, aluna de física a distância da UFRJ, só as provas e atividades específicas ocorrem na sala de aula

Gonzalez é um exemplo extremo. Mas histórias de quem não estuda porque mora longe da universidade ou não pode estar na escola sempre no mesmo horário são comuns no Brasil. Não é à toa que a modalidade de educação a distância na graduação está crescendo no País. Segundo o Censo da Educação Superior de 2006, o número de cursos cresceu 571% de 2003 a 2006. Neste mesmo período, o aumento de matrículas foi de 315%. Em 2006, 207.206 alunos de graduação estudavam dessa forma.

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MARCO ANTONIO REZENDE/AG. ISTOÉ

Foram anos para se tornar uma alternativa aos brasileiros. Os primeiros cursos a serem oferecidos no País foram de pedagogia e licenciatura na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Em 1995, eles estavam disponíveis apenas aos professores da rede. Dois anos depois, a graduação a distância em pedagogia foi ampliada para alunos de fora. “Esse crescimento recente está ligado a dois fatores: ao aumento da oferta e à percepção de que esses cursos têm qualidade”, diz o secretário de Educação a Distância, Carlos Eduardo Bielschowsky. Em 2006, 77 instituições de ensino superior já ofereciam a modalidade na formação para profissões nas áreas de humanas, exatas e biológicas. Hoje, ela está disponível em quase toda grande instituição de ensino superior brasileira. Universidades como Unisa e Anhembi Morumbi, em São Paulo, têm também a forma presencial com até 20% da grade curricular ministrada online. A Anhembi tem ensino a distância desde 2001. Atualmente, são três opções em graduação tecnológica e uma em pós-graduação. “Realizamos pesquisas periódicas com os alunos e verificamos que o nível de satisfação é bastante elevado, por isso o investimento”, conta Cristiane Alperstedt, diretora de ensino a distância da universidade.

LUCIANA WHITAKER/AG. ISTOÉ

PRATICIDADE Em cursos como o de Helene, aluna de física a distância da UFRJ, só as provas e atividades específicas ocorrem na sala de aula

A modalidade é uma necessidade do profissional que está no mercado de trabalho e quer se atualizar. Casado e pai de duas meninas, Maurício Ghigoneto, 37 anos, é aluno de pós-graduação a distância em administração em marketing e vendas na Anhembi. Deve se formar em julho e afirma que não conseguiria levar um curso nos moldes convencionais, apesar de morar a duas quadras da universidade. “Eu provavelmente não veria as minhas filhas por dois anos”, diz ele, que se dedica cerca de uma hora por dia aos estudos. “E, a essa altura, já teria sido reprovado por falta por causa das viagens a trabalho.”

O grande desafio dos cursos a distância ainda é vencer o preconceito. “No Brasil, a desconfiança está diminuindo. Na Espanha, já vi anúncios de oferta de emprego priorizando alunos formados pela modalidade a distância”, diz Bielschowsky. “Eles são conhecidos por serem mais disciplinados e independentes.” De acordo com levantamento do Enade (exame do Ministério da Educação que avalia o ensino superior), divulgado no ano passado, de 13 áreas em que foi possível comparar o desempenho do aluno presencial com o estudante a distância, quem estuda em casa se destacou em sete. Geralmente, os cursos de graduação a distância duram o mesmo período e custam o mesmo que os convencionais. Helene Augusta Baptista, 20 anos, que dá aulas de reforço para alunos do ensino médio, preferiu estudar física a distância pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Escolhi para não precisar ir às aulas todos os dias porque trabalho e ficaria muito complicado”, diz ela. O curso de física na UFRJ é emblemático. Há mais alunos na modalidade a distância que no presencial.


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