A última moda dos políticos em Brasília é ir a um certo tipo de convento onde música sacra, monges e estátuas de santos são meros detalhes da decoração. Trata-se, na verdade, de uma casa profana, convite ao pecado da gula. O restaurante, chamado Convento, no Lago Sul, um bairro residencial nobre da capital, está desbancando casas tradicionais na preferência da cúpula do poder. Nove entre dez ministros do governo Fernando Henrique estão na lista dos pecadores mais assíduos. Trocaram o picadinho do badalado restaurante Piantella, predileto do falecido Ulysses Guimarães, por outro picadinho, à franciscana, cortado na ponta da faca no Convento. O ministro da Fazenda, Pedro Malan, detesta badalações e pouco sai de casa. Mas não é nada difícil esbarrar com ele numa sexta-feira à noite no Convento. De tão à vontade, já foi visto acomodado numa rede ao lado da piscina enquanto aguardava a sua mesa. Longe do circuito de restaurantes agitados, o discreto ministro revelou uma faceta desconhecida da sua personalidade. No livro de frequência da casa, tateou uma, digamos, quase-poesia. "Fantástica combinação de ingredientes indispensáveis à vida: arte, ambiente, culinária, amizade, clima, humanidade", escreveu Malan.

Outro habitué do Convento é o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga. No cardápio franco-mineiro não faltam a galinha ao molho pardo com polenta e o lombo com tutu de feijão, para ele matar a saudade da comida de sua terra. Por sorte – e por habilidade da dona – Pimenta ainda não cruzou ali com o ex-ministro da Justiça Renan Calheiros, seu desafeto. De tão frequente, Calheiros ganhou um ambiente reservado no andar superior do restaurante.

O alho de Serra – É de lá também que sai o picadinho que o ministro da Saúde, José Serra, manda buscar quando não tem tempo de sair do gabinete para almoçar ou para jantar. Serra, que odeia cebola e alho, nem desconfia de uma coisa: o prato que tanto ama leva os dois temperos. "Aqui ele nunca se queixou. Come o picadinho com cebola, alho e tudo", revela Bárbara Botelho, chef de cozinha e proprietária do restaurante. Atraído pelo nome sugestivo, o alto clero incluiu recentemente o restaurante em seu roteiro. Autoridades da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que frequentam o Convento até se divertem com os garçons do restaurante, todos vestidos de batina.

No lado oposto da cidade, mas ainda em um bairro residencial, o Lago Norte, um outro restaurante também se consolidou na preferência dos poderosos como rota de fuga do frisson do baixo-clero. O restaurante começou abrindo apenas duas vezes por semana, nos jardins da casa de Alice Mesquita de Castro, funcionária da empresa de processamento de dados do Senado. A demanda cresceu tanto que hoje ela só fecha aos domingos e às segundas, mas manteve o número de mesas. Além do ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann, e do secretário Executivo do Ministério do Desenvolvimento, Milton Seligman, que delira com o magret criado por Alice, o restaurante está na lista do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, do ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, e do ministro da Casa Civil, Pedro Parente. Como a cozinha e a sala de refeições formam um mesmo ambiente, Alice não conseguiu escapar das exigências do ministro da Saúde. Quando ele chega, seu prato é feito à parte sem nenhum rastro de cebola ou alho.

Para cada extravagância do poder, os restaurantes da cidade arrumam uma solução. O ministro do Turismo e Esporte, Rafael Grecca, chocou Brasília ao eleger como seu prato preferido o arroz com ovo do tradicional restaurante Carpe Diem. Na verdade, o prato nem existia no cardápio. Foi improvisado para atender ao desejo do ministro. No dia em que chegou à capital, minutos antes da posse, Grecca dirigiu-se ao Carpe Diem e arrancou risadas do garçon quando disse que estava sonhando com um prato de arroz e ovo frito. "Um bom restaurante deve saber preparar um bom ovo frito", recomenda Grecca.

 

Magret de pato ao molho de cointreau e gengibre
(1 pessoa)

 

Ingredientes:
1 peito de pato desossado
3 colheres (sopa) de açúcar
3 colheres (sopa) de shoyu
1 colher (sopa) de vinagre de arroz
2 colheres (sopa) de cointreau
1/2 colher (chá) de gengibre fresco ralado.

Modo de preparo:
Grelhe o peito de pato com a pele para baixo até ficar bem dourado. Tempere com sal e pimenta-do-reino. Reserve em local aquecido. À parte, faça um caramelo com açúcar, o vinagre, shoyu, cointreau e gengibre. Deixe reduzir até ficar um molho mais encorpado. Sirva sobre o peito de pato fatiado e acompanhe com purê de mandioquinha.