Os escritórios da Interpol em 186 países receberam este mês uma determinação da sede, em Lyon, na França. Todas as unidades no mundo terão de ser mais operativas, criando novas ferramentas para prender criminosos. A unidade brasileira é considerada uma das mais eficientes e que mais prende fugitivos internacionais. A pedido da sede, o escritório de Brasília traduz para o inglês um manual com técnicas de investigação de foragidos, que será distribuído aos países- membros. Mesmo assim, o novo chefe da Interpol no Brasil, delegado Jorge Pontes, não está satisfeito. Em entrevista à ISTOÉ, Pontes afirmou que vai adotar procedimentos para tornar as operações ainda mais ágeis. A Interpol quer instalar este ano em todos os hotéis do País um software semelhante ao que levou à prisão do banqueiro Salvatore Cacciola, em Mônaco. Lá, os hotéis checam se o hóspede faz parte da chamada Difusão Vermelha da Interpol, uma lista com fotos e informações sobre os criminosos procurados. Para dar celeridade às prisões, são estudadas mudanças na legislação. “A idéia é fazer a Interpol no Brasil funcionar como uma máquina de prender gente”, avisa Pontes.

Atualmente, 340 brasileiros estão sendo caçados no Exterior por crimes diversos. Dentro do Brasil, a Interpol estima que há 200 grandes bandidos internacionais escondidos, alguns deles do mesmo porte do traficante Juan Carlos Abadía, um dos chefes de cartel de drogas na Colômbia, preso em agosto de 2007. Como nos filmes de faroeste americano, a Interpol faz cartazes dos fugitivos com a tarja Wanted (procurado) em letras garrafais. A diferença é que os cartazes estão disponíveis na internet. Por esse sistema, na madrugada da quarta-feira 30, a Interpol no Brasil solicitou à sede em Lyon que colocasse quatro brasileiros na Difusão Vermelha. Apenas alguns segundos depois, eles foram presos na Itália. Batizada de Operação Maria Madalena, a ação da política italiana deteve Helena Cavalcanti, Ezequiel Guimarães, Daniele Leporic e Graciele Benevides, acusados de envolvimento em tráfico internacional de pessoas.

Um dos brasileiros na lista dos mais procurados é o promotor Igor Ferreira da Silva, condenado pelo assassinato da mulher, Patrícia Aggio Longo. Está foragido desde 2001. Outro nome importante é o do gaúcho Irineu Soligo, suspeito de ser um dos chefes do narcotráfico na fronteira.

Até dezembro, serão realizadas quatro grandes operações, em conjunto com diversos países. A Interpol já tem alguns endereços. Grande parte dos criminosos está fugindo para a Tríplice Fronteira (Foz do Iguaçu/Ciudad del Este/Puerto Iguazú). Paulo César Farias, o PC Farias, pivô do esquema de corrupção no governo Collor, iniciou a sua tentativa de fuga passando primeiro pela Argentina. O juiz Nicolau dos Santos Neto, que desviou dinheiro do TRT paulista, fugiu para o Uruguai.

No front nacional, a grande novidade é a adoção do já citado sistema que permite localizar os criminosos estrangeiros assim que fizerem a reserva de hotel. O governo federal vai procurar as associações ligadas à hotelaria para negociar a instalação. Os hotéis terão link com a base de dados de procurados da Interpol. Se um nome constante no registro do hotel aparecer na Difusão Vermelha, será emitida, imediatamente, uma mensagem de prisão na tela do computador dos atendentes.

Outra iniciativa da Interpol é incentivar a mudança da legislação para tornar automática a prisão de criminosos incluídos na Difusão Vermelha. Projeto de lei neste sentido tramita no Senado. Atualmente, cinco grandes criminosos internacionais estão sendo monitorados pela Interpol no Brasil. A legislação brasileira não permite que a ordem de prisão que consta na Difusão Vermelha tenha validade. Vários países, como Argentina e Colômbia, prendem o bandido somente por constar na Difusão. Aqui, mesmo que o nome do criminoso internacional esteja na lista da Interpol, é necessário um mandado de prisão expedido pelo STF. “A prisão será imediata assim que o projeto virar lei”, diz o senador Magno Malta, presidente da CPI da Pedofilia. “A difusão servirá para decretar a prisão”. Se o projeto for aprovado, bastará uma mensagem pelo sistema Interpol I-24/7 (que significa Interpol 24 horas por dia, sete dias por semana) para a prisão imediata do procurado.

Além de buscar foragidos da Justiça, a Interpol ajuda as polícias dos países a investigar terrorismo, tráfico de seres humanos, corrupção, tráfico de drogas e crimes financeiros. Este ano, a Interpol no Brasil fez operações internacionais conjuntas com os escritórios da Suíça e de Israel. Nestas duas operações foram presas 50 pessoas envolvidas com uma rede de pedofilia. Em outra operação foi presa uma quadrilha internacional de contrabando de partes de recifes de coral, utilizadas na ornamentação aquática. A Interpol pretende apertar o cerco a estrangeiros que tenham cometido crimes no Brasil, mas retornaram ao país de origem. Por esse critério, estão na Difusão Vermelha o iraniano Kia Joorabchian, presidente da MSI, empresa ex-parceira do Corínthians, e o russo Boris Berezovsky, um dos principais investidores da empresa. São acusados de envolvimento em esquema de lavagem de dinheiro.