Em plena virada de milênio, o mundo se vê às voltas com um assunto que parecia ter adormecido nas décadas de 70 e 80: o aumento do preço do petróleo. Ao bater na casa dos US$ 30 o preço do barril, valor mais alto desde a Guerra do Golfo, em 1991, o petróleo retorna à cena, como sempre, no papel do vilão capaz de atrapalhar os rumos da economia mundial. Como numa espécie de revival, a Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), que controla 40% da produção mundial de petróleo, voltou a ter seu nome estampado em letras garrafais no noticiário do mundo inteiro. Só que desta vez tudo indica que o impacto está longe de causar o estrago do passado. Motivo: nas últimas duas décadas, as grandes potências reduziram a dependência do produto através de um melhor aproveitamento do consumo do combustível e do desenvolvimento de outras fontes de energia, como solar, eólica, elétrica, etc. Isso não significa, porém, que não vá doer no nosso bolso. Desde a última quarta-feira, o preço do combustível está entre 5% e 8% mais caro em todo o Brasil.
 

Apesar do aumento, os especialistas em recursos naturais dizem que ainda é cedo para pânico. “Os países desenvolvidos estão pressionando muito os produtores mundiais para que eles aumentem as cotas de exportação e tudo indica que eles vão ceder”, diz Fernando Oliveira, analista de investimentos na área de petróleo da corretora Fator, Doria, Atherino. Segundo ele, os países produtores sabem que ao manter os preços nas alturas por muito tempo o risco de uma recessão, com queda de consumo, é muito grande. Ao que parece, eles não vão conseguir ficar sentados em cima dos seus poços por muito mais tempo.
 

O corte de quatro milhões de barris diários de petróleo foi definido pelos 11 países-membros da Opep no início do ano passado. A idéia era reduzir as cotas de exportação para fazer o preço do barril subir. Na época, em função das crises econômicas mundiais, como as da Ásia e da Rússia, o preço do barril chegou a US$ 10. Acontece que, tradicionalmente, os países da Opep não se entendem por muito tempo e sempre um deles acaba furando o acordo de redução de produção do combustível. Dessa vez, todos foram comportadíssimos. Ninguém rompeu o trato. Some-se a isso um inverno dos mais rigorosos no Hemisfério Norte, que provocou um aumento de 40% no consumo de combustível para aquecimento. O resultado foi a maior alta dos últimos nove anos no preço do barril.
 

Agora, o mundo aguarda a próxima reunião da Opep, que deverá acontecer no dia 27 de março, em Viena, quando os representantes de países como Arábia Saudita, Irã e Líbia vão se sentar em volta de uma mesa e decidir o quanto a mais ou a menos o petróleo vai jorrar. Especialistas apostam que um possível aumento no volume das exportações deverá baixar o preço do barril já em abril para algo em torno de US$ 25. Os mais otimistas apostam em US$ 19. De qualquer forma, fica o aviso de que a Opep está aí para mostrar a sua cara, coberta pelo conhecido “keffyie”, sempre que achar necessário.